22 de abril de 2025

NOVO abalo à Lagoa do Peri na temporada põe em xeque futuro da água no Sul

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Pouco mais de um ano depois de fenômeno de coloração avermelhada que se abateu sobre as águas da Lagoa do Peri, o maior manancial de água doce da capital – com capacidade máxima estimada em 20 milhões de litros – e fonte principal de abastecimento das costas Leste-Sul da Ilha sofreu mais um duro revés nesta temporada. Pela primeira vez na história recente de medições de balneabilidade do Instituto de Meio-Ambiente de SC (IMA), a Lagoa do Peri foi declarada imprópria para banho por duas semanas consecutivas durante o auge do verão, intensificando a preocupação acerca de seu futuro.
Alguns motivos da recente contaminação arguidos pelo governo municipal e Casan, que detém outorga para extração hídrica do manancial, foram as chuvas intensas, problemas pontuais nas instalações sanitárias locais e o excesso de veranistas durante a temporada, considerada uma das melhores da história recente da capital. ‘O próprio IMA informa que após chuvas normalmente temos problema com balneabilidade e com a lagoa não seria diferente’, pondera o secretário municipal de Meio-Ambiente, Alexandre Waltrick.
Além da relevância balneária, a Lagoa do Peri é vital para abastecer a Costa Leste-Sul da Ilha, atendendo mais de 120 mil habitantes da Barra da Lagoa ao Extremo-Sul da Ilha. Qualquer anormalidade pode impor novas reduções de volumes coletados, além de dificultar a potabilização. Apesar de há mais de cinco anos ter extração monitorada para não colapsar o manancial, a lagoa responde ainda por quase 60% da água fornecida para a região, com capacidade de coleta de 185 litros por segundo, conforme dados da Casan.
As demais fontes são a Unidade de Tratamento do Campeche e oito poços artesianos, todos por meio de extração do lençol freático, e um tímido ingresso do Sistema Integrado da Grande Florianópolis. Com o geométrico crescimento regional, infiltração de esgotos domésticos e impermeabilização do solo – que dificulta recompor o lençol freático – não é difícil perceber o risco que representa a fragilização da lagoa. Mesmo o Sistema da Grande Florianópolis plenamente interligado tende a ter pouca margem para atender à região, sobrecarregado pelo crescimento de municípios vizinhos e outras regiões da capital.
A contaminação da Lagoa do Peri provocou a recente instauração de grupo de trabalho sobre saneamento pela Comissão de Meio-Ambiente da Assembleia Legislativa. Integrado por representantes da UFSC, Casan, Floram, IMA e comunidade, os primeiros encaminhamentos do grupo foram: pedido de fiscalização de fossas e sumidouros em locais próximos à lagoa; apoio para que a Casan inicie pagamento de compensação ambiental pelo uso da água, que viabilizará ações de manejo da unidade de conservação; e realização de diagnóstico, com obtenção de informações junto à companhia.
‘A Lagoa do Peri tem saído de um problema para o outro. Teve a seca extrema em 2020, depois o avermelhamento em 2023, o impacto da colocação das placas da Casan (barreiras físicas na barragem de captação) no ano passado e agora a contaminação; está sofrendo com os extremos climáticos e com os extremos do uso dela”, afirmou Carolina Peccini, diretora ambiental da Associação de Moradores da Lagoa do Peri, durante o primeiro encontro do novo grupo de trabalho. ‘Além da situação da Lagoa do Peri, que é grave, existem questões ambientais em outros lagos e lagoas do estado, além de praias; nosso mandato e a comissão já têm atuado em vários desses locais, mas um grupo de trabalho expandido como esse pode acelerar e ampliar avanços’, afirmou o deputado estadual Marquito, presidente da Comissão de Meio-Ambiente da casa. (Foto: PMF/Divulgação/JC)