31 de janeiro de 2025

ILHA do Campeche: paraíso do Sul tem visitação controlada no verão

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Única ilha oceânica da Região Sul dotada de praia, considerada uma das mais lindas do Brasil – comparada às praias caribenhas – e um dos atrativos mais procurados pelos turistas que visitam o Sul da Ilha, a Ilha do Campeche deixou de ser um destino simplificado nesta temporada. O grande afluxo de visitantes ao local resultou numa situação nova; pela primeira vez, o município interveio diretamente na gestão de visitação, impondo exigência de ingresso (digital e gratuito) para desembarcar no local, que tem limitação de 800 visitantes diários. A despesa do visitante segue restrita à contratação do translado de barco.
Embora em parte tenha sido positiva, do ponto de vista de proteção ao local, a operação, por meio de aplicativo, acabou gerando algumas distorções. Afora a incongruência de se impor o uso obrigatório do celular para turistas em meio a férias, houve também a geração de vouchers (ingressos) além da conta, por falha na operação do aplicativo. ‘Tivemos problemas com alguns turistas, com ingresso, que não puderam embarcar e ameaçaram até nos processar’, contou Aldori Aldo de Souza, da Armação, um dos 29  barqueiros autorizados a operarem o passeio.
Nativo da Armação, atuando há mais de 30 anos no translado à Ilha, Aldori acredita que a intervenção tem objetivo também de dimensionar o potencial turístico do passeio, para futuramente se introduzir alguma terceirizada na operação de translado. “Acho que não está longe o dia em que vão tentar nos tirar do negócio’, disse o barqueiro. Em recente acordo, intermediado pelo Ministério Público, os barqueiros tradicionais já tiveram uma redução na cota de translado de visitantes, transferidas para outros operadores.
A Prefeitura da capital defende que a Ilha do Campeche, que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan) deste o início dos anos 2000 – graças também ao seu valioso acervo de inscrições rupestres -, seja transformada em Unidade de Conservação municipal, classificada como ‘Monumento Natural’, categoria a que já pertence a Lagoa do Peri, sob a gestão do município. Para discutir a proposta, a Floram já conduziu duas consultas públicas em comunidades do Sul da Ilha ao longo de 2024, a mais concorrida delas em meados do ano, na Armação.
O maior risco que paira sobre a Ilha do Campeche é o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) da Extinção dos Terrenos de Marinha, conhecido como projeto de privatização de praias, que tramita no Senado Federal e pode ser votado a qualquer momento. Sob a bandeira da extinção de taxas da União para ocupantes ou cessionários de áreas costeiras, vista com simpatia por muitos, a PEC permitiria a estados e municípios legislarem sobre a eventual ocupação dessas áreas, na qual se enquadraria a Ilha do Campeche, com licenciamentos restritos a órgãos estaduais e municipais, sem necessidade de anuência federal.
Aldori lembra que o traslado foi introduzido, há mais de 30 anos, como alternativa de ocupação e renda para os pescadores, durante a entressafra da pesca. ‘Hoje a pesca acabou, todos nós vivemos da travessia’, ressalta. O barqueiro recorda que no final dos anos 80 foi especulada até a construção de um cassino no local, num terreno que pertenceria a uma antiga grande empresa da capital. ‘A cobiça pela ilha já vem de longe’, diz ele, que defende inclusive a adoção de uma espécie de ‘defeso’ para a Ilha do Campeche. Durante alguns meses do ano, sugere o barqueiro, se deveria interromper o transporte comercial à ilha, para preservar e ajudar na regeneração da fauna e floras locais. (Foto: Allan Carvalho/PMF/Divulgação/JC)