Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Ninguém saiu ileso da enxurrada que devastou a capital no início da segunda quinzena de janeiro, em meio a uma das temporadas mais promissoras dos últimos anos. Toda a população sofreu impactos do fenômeno climático, direta ou indiretamente. Em pouco mais de 24 horas a cidade recebeu carga de água correspondente a quase um mês e meio de chuvas normais, resultado de fenômeno conhecido como ‘lestada’, de difícil detecção pelos radares meteorológicos.
Embora maiores volumes tenham atingido Centro e Norte da Ilha, o Sul da Ilha também contabilizou muitos prejuízos. Além dos alagamentos de ruas e residências em quase todos os bairros, a região do entorno do Rio Tavares voltou a ficar embaixo d’água, as cabeceiras da ponte foram destruídas e a SC-405 teve o tráfego interrompido por quase 24 horas. A Prefeitura decretou estado de emergência, que perdura por até 180 dias, e ainda calcula o montante dos prejuízos.
Ao todo, foram contabilizadas quase 150 ocorrências causadas pela chuva: 18 deslizamentos, 31 alagamentos, 41 danos em vias públicas, 23 quedas de muro, cinco quedas de árvores, 25 moradias interditadas e mais de 100 pessoas desabrigadas, sem contar os tradicionais estragos pontuais em ruas e avenidas, que ficaram ainda mais esburacadas. A previsão de recuperação da cidade ao status anterior à enxurrada é de pelo menos 90 dias. Uma semana depois, novo toró, que durou algumas horas, voltou a castigar o Campeche e região, alagando diversas ruas.
TURISTAS – Apesar do impacto das chuvas e de sua repercussão em nível nacional, a temporada escapou praticamente ilesa. Não houve debandada de turistas e nem declínio no fluxo de visitantes, fenômeno importante para subsidiar a recuperação estrutural da cidade. No dia seguinte ao desastre, a maioria das praias já estava repleta de banhistas esgrimando entre entulhos e resíduos que restaram acumulados nas areias dos balneários.
Acerca da temporada, uma certeza: os argentinos estão ‘salvando’ o verão na capital, respondendo por cerca de 80% dos estrangeiros e 30% dos turistas em geral que passaram pela Ilha ao longo de janeiro, conforme estimativas oficiais. O Sul da Ilha, que normalmente não é o preferido deles, tem recebido muitos hermanos. ‘Os argentinos e as novas operações do aeroporto é que estão garantindo uma boa temporada em Florianópolis’, acredita o ex-secretário estadual de Turismo, Leandro Mané Ferrari.
‘O custo de vida na Argentina subiu muito, tudo está muito caro; hoje é mais barato passar 10 dias em Florianópolis, que tem praias lindíssimas, do que uma semana em Mar del Plata’, explicou o argentino Juan Manuel Gorjon, de Buenos Aires, sobre o motivo que o trouxe a Florianópolis. Funcionário de uma universidade particular da capital argentina, ele veraneava pela primeira vez na cidade, no Campeche, em meados de janeiro.
Outra certeza da temporada é a de que a presença recorde de turistas, estimada em dois milhões de visitantes até março, foi superestimada. ‘Está sendo uma boa temporada, acima das expectativas em relação aos argentinos, mas no geral muito próxima da temporada passada’, comentou o comerciante Arante Monteiro, do Pântano do Sul. O fato positivo, destaca ele, é que janeiro foi mais linear, com movimento constante, sem quebra mais forte de fluxo a partir da segunda quinzena. ‘Vamos ver como se comporta ao longo de fevereiro’, assinalou.
(Foto: Lucas Amorelli/Diário Catarinense/Divulgação/JC)