Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Num surpreendente desempenho, quando parecia certa a disputa de um segundo turno, o prefeito da capital Topázio Neto acabou liquidando a fatura ainda no primeiro turno. Conquistando um total de 161.839 votos, correspondente a 58,49% dos votos válidos, o ex-vice-prefeito da cidade – que assumiu o bastão em 2022, com a renúncia do titular Gean Loureiro -, e comanda a cidade há dois anos, renovou com relativa facilidade seu mandato e vai comandar a cidade por mais quatro anos, no quadriênio 2025-2028.
Apoiado pela classe dirigente da cidade, pelo governador Jorginho Mello (PL) e preferido da mídia hegemônica, Topázio não teve muita dificuldades para se eleger, na matemática fria dos números, cravando mais de 100 mil votos de diferença sobre o segundo colocado e contrariando algumas pesquisas. É inegável que além do robusto apoio, o vitorioso também teve méritos próprios: conseguiu catalisar votos mesmo em áreas mais vulneráveis da cidade, graças também as suas famosas intervenções nas redes sociais, onde exibe caprichado linguajar manezinho. Apesar de iniciar carreira política beirando os 60 anos (atualmente, tem 62), o prefeito aprendeu rapidamente a usar a tecnologia para dialogar com o eleitorado.
A expressiva votação do agora prefeito reeleito lhe permitiu também conquistar uma Câmara novamente majoritariamente alinhada, com apenas cinco nomes de oposição e um ‘independente’ – que já esteve ao lado do governo até há poucos meses. Essa condição lhe permitirá conduzir a cidade sem maiores dificuldades, impondo seus projetos, mesmo os mais polêmicos, portador que é de um verdadeiro ‘cheque em branco’ fornecido pelo eleitorado municipal. Embora seja importante ressaltar que seu projeto político, no frigir dos ovos, não foi chancelado por mais de 40% dos eleitores ativos de Florianópolis.
Na segunda colocação no pleito da capital, frustrado na expectativa de disputar o segundo turno que parecia próximo, chegou o deputado estadual Marcos de Abreu, o Marquito (PSol), com 61.509 votos, correspondente a 22,23% dos votos válidos. O psolista obteve mais votos do que a soma de todos os demais candidatos e somou mais do que o triplo de votos do terceiro colocado, o pepista Pedro Silvestre, o Pedrão, que cravou 19.640 votos. Apesar do bom desempenho numérico do candidato, o PP não conseguiu colocar nenhum nome entre os 23 eleitores eleitos.
A grande decepção coube mesmo à candidatura Dário Berger (PSDB), que era tida como a mais forte para disputar o segundo turno com chances de vencer Topázio. O ex-prefeito da capital por duas vezes conquistou somente 16.750 votos, apenas 749 a mais do que o quinto colocado, o petista de primeira viagem Vanderlei Farias, o Lela. Dário obteve desempenho eleitoral muito parecido com o da ex-prefeita Ângela Amin, em 2020. Igualmente ex-prefeita por duas vezes, e tida como a adversária mais forte do favorito em 2020, Ângela teve votação pífia naquele pleito, sucumbiu e desapareceu melancolicamente da vida política municipal. A conferir, se o fracasso eleitoral será também o ocaso da carreira política do ex-prefeito.
Mas Berger não se afogou politicamente sozinho, levou água abaixo consigo também o robusto patrimônio eleitoral do ex-prefeito Gean Loureiro. Apesar da derrota fragorosa na disputa ao governo em 2022, Gean venceu duas vezes consecutivas a eleição a prefeito, na segunda delas com grande facilidade, e ainda detinha respeitável capital eleitoral. O ex-prefeito, que parecia uma aliado natural do atual prefeito, acabou rompendo com Topázio às vésperas do pleito, se engajou na campanha de Dário e colocou até uma aliada na chapa majoritária.
Apesar do desgaste eleitoral, alguns acreditam que o experiente Gean teria malandramente colocado ovos em duas cestas diferentes nestas eleições. Apostou em Dário, para marcar posição e testar sua força eleitoral que, no final das contas, não era assim tão sólida. Faltou musculatura. Mas Gean poderá facilmente corrigir sua rota, realinhar os ponteiros com Topázio e apoiar sua gestão que, em linhas gerais, tem praticamente a mesma matriz programática da sua. Ambos não só desfrutam de apoio de praticamente todas as entidades que representam a classe dirigente da cidade como até pinçaram alguns expoentes destas entidades para compor o staff do governo municipal e mesmo atuarem como proponentes de políticas públicas.
Mesmo não chegando ao segundo turno, o deputado estadual Marquito, por sua vez, emerge naturalmente como o nome mais forte de oposição na capital, credenciado a disputas futuras como nome de proa no tabuleiro eleitoral. Sua votação robusta, além de colocar novamente três nomes do PSol na Câmara – dois deles novatos – lhe permite aspirar posições ainda mais altas no próximo pleito, em 2026, provavelmente a Câmara Federal, antes de certamente tentar novamente a Prefeitura em 2028. As outras quatro candidaturas somadas fechando a nominata majoritária na capital, entre elas a do renitente professor Rogério Portanova (há mais de 20 anos, volta e meia concorre à Prefeitura), do Avante, não conseguiram somar sequer 1.000 votos ou 1% dos votos válidos. (Foto: PMF/Divulgação/Arquivo/JC)