Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Consolidada como uma das principais forças da comunicação popular e umas das rádios FM mais sintonizadas no Campeche e região, a Rádio Comunitária Campeche está temporariamente fora do ar no dial do rádio, para ‘alívio das concorrentes’ e tristeza de sua ampla legião de ouvintes. O motivo foi o término da cessão gratuita da área onde manteve instalado seu bucólico estúdio por quase 20 anos, posto à venda pelo cessionário, o Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e região (Sinergia). Com isso, a rádio está se mudando de mala e cuia para novo endereço.
Sua estrutura, para futura operação, está sendo instalada num espaço cedido também gratuitamente, de forma temporária, pelo Sintrajusc (Sindicato dos Trabalhadores na Justiça de SC), há cerca de 700 metros da antiga sede, no Campeche. ‘A transferência da estrutura é até bastante simples, mas a mudança da localização da antena exige uma extensa burocracia documental, envolvendo Ministério das Comunicações e Anatel, que deve demandar um bom tempo para ser resolvido’, explicou o coordenador geral da rádio, o físico aposentado Arnaldo Prudêncio.
O desligamento do sinal de FM aconteceu no dia 21/08, mas o dirigente ressalta que a rádio seguirá presente normalmente na internet. ‘Os programas ao vivo estão suspensos por tempo indeterminado, infelizmente, mas manteremos ativa nossa programação musical por meio de operação eletrônica, com a mesma linha tradicional que nos caracteriza’, avisou. ‘Pelo computador e pelo celular, nossos ouvintes poderão seguir nos acompanhando 24 horas por dia’, reforçou.
Além da linha musical diferenciada, a rádio é conhecida pela difusão de uma série de programas ao vivo e gravados, a maioria de forte conteúdo crítico. Às vezes, se faz presente até na cobertura de eventos pontuais relevantes para a comunidade. Também tem tradição na interação comunitária, por meio de eventos e apresentações artísticas na sua agora ex-sede. Titular do principal programa ao vivo da emissora, o Campo de Peixe, aos sábados, a jornalista Elaine Tavares revela desconforto com a situação. ‘É uma sensação de tristeza infinita… afinal, são 18 anos do programa, sem nunca falhar’, comentou.
Prudêncio informou que, não obstante a situação, a intenção da diretoria da rádio é seguir coesa para definir estratégias de aceleração da retomada de operações. O dirigente informou que a emissora pleiteia também junto ao governo a cessão de uma área própria, para futura instalação definitiva de sua estrutura. Embora seu alcance por meio do dial se restrinja a um quilômetro quadrado, por conta do relevo favorável da planície do Campeche seu sinal costuma ir mais longe. Na internet, não tem fronteiras. “Temos ouvintes que nos acompanham até da Suíça”, comenta Elaine.
Ex-presidente da emissora , atual membro da diretoria e um dos integrantes do grupo que concebeu a rádio comunitária e trabalhou pela sua viabilização, iniciada em meados dos anos 90, juntamente com o jornalista gaúcho Lúcio Flávio Haeser, o ativista comunitário Ubiratan Saldanha calcula em torno de seis meses o tempo que a rádio ficará sem sinal de FM por conta do imbróglio para transferência de antena. “Hoje a situação é um pouco menos complicada do que naquele tempo, a burocracia é um pouco menor, talvez consigamos retomar um pouco antes”, ressalva. Na foto, equipe da rádio confraterniza com moradores e líderes comunitários durante festa de despedida do estúdio desativado, no Campeche.
(Foto: Divulgação/JC. Clique na imagem para vê-la em tamanho ampliado)