2 de abril de 2024

CIDADE festeja 351 anos de história em meio a desafios sobre o futuro

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Privilegiada pela natureza e um dos destinos mais desejados do Cone Sul por turistas e novos moradores, Florianópolis (a popular Floripa) acaba de comemorar 351 anos de fundação imersa em grandes desafios acerca de seu futuro. Com um crescimento populacional vertiginoso há pelo menos uma década, com estimativa atual de mais de 540 mil habitantes – numa área de 674 quilômetros quadrados -, a cidade tem à frente uma série de problemas a atacar para manter a decantada qualidade de vida que lhe granjeou fama.
Acerca dos problemas, é praticamente consensual que os principais nesse momento são: mobilidade e saneamento básico e, naturalmente, suas consequentes ramificações. Sobre as estratégias e soluções para eles, no entanto, pairam visões distintas. “Precisamos de um plano viário global, uma linha-mestra que inclua integração intermunicipal e outros modais, norteando um conjunto de obras concatenadas para resolver o problema da mobilidade”, acredita o publicitário Roberto Costa, coordenador do movimento Floripa Sustentável, que congrega as principais entidades empresariais da cidade. “Precisamos parar com a cultura dos puxadinhos, terceira pista aqui e ali, que são meros paliativos; a cidade está trancada e daqui a cinco anos, no máximo, corre o risco de literalmente parar”, vaticina Costa.
O economista e ex-vice-prefeito da capital, Afrânio Boppré, por sua vez, acha que o caminho para resolver a mobilidade passará inevitavelmente pela implantação da ‘Tarifa Zero’ no transporte coletivo da capital, modelo que já vem sendo implantado com bons resultados em outras cidades do país. Segundo ele, ao contrário do que parece, o modelo não contempla apenas o usuário final, trazendo inúmeros benefícios diretos e indiretos para a cidade, que vão muito além da própria fluidez do tráfego. “O custo-benefício do ‘Tarifa Zero’ é altamente vantajoso; é enganoso pensar que o modelo beneficia somente o usuário direto. Na prática, todos ganham; a Tarifa Zero faz girar a economia e gera inclusão social”, argumenta.
Em relação ao saneamento básico, as visões são ainda mais discrepantes. “Precisamos repensar a hegemonia da Casan, permitir a terceirização do serviço ou até mesmo privatizar a companhia”, defende Costa. “Nossa capital tem números muito ruins, somos a 15ª capital do país em cobertura de esgoto, e isso só se resolverá com a flexibilização do serviço”, argumenta o dirigente do Floripa Sustentável. Um modelo nesse sentido coincidentemente vem sendo gestado inclusive para implantação no Sul da Ilha, região mais carente de saneamento na cidade, com zero esgoto tratado.
Na visão do ex-vice-prefeito Boppré, no entanto, a solução para o saneamento passa pelo fortalecimento da Casan, detentora de know-how incontestável na gestão e operação de saneamento, apesar de eventuais dificuldades econômicas e a gestão prioritariamente política. “A terceirização é inclusive ilegal, contraria a Lei Orgânica do Município, que veda a concessão desse tipo de serviço à iniciativa privada”, alega. No caso específico do Sul da Ilha, o ex-vice-prefeito critica a própria solução híbrida que está sendo proposta pelo governo municipal, mantendo o serviço de água com a Casan e terceirizando a gestão de esgoto, que pode ser questionada pela própria concessionária. “A solução é ser mais incisivo na cobrança à Casan para que cumpra o que está previsto no contrato de concessão”, defende.