Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O abastecimento de água no Sul da Ilha corre risco de entrar em colapso mais rapidamente do que alertavam segmentos comunitários durante as discussões do novo plano diretor. Incorre para isso um coquetel de fatores que oferece poucas saídas, se não for não atacado com urgência. Puxa a fila, nova suspeita de contaminação das águas da Lagoa do Peri, principal manancial da Costa Leste Sul da Ilha, que responde por cerca de 50% da água que abastece uma população estimada em quase 150 mil pessoas. O restante do abastecimento da região é obtido através de quase duas dezenas de poços artesianos instalados no Campeche e região.
A coloração avermelhada que vem se sobressaindo na lagoa, atenuada pelas chuvas de outubro, foi alvo de recente audiência pública realizada na Assembleia, que resultou na criação de comissão para monitorar as condições do local. “É flagrante que existe um grande desequilíbrio ambiental no ecossistema da Lagoa do Peri, ao ponto de ter sua vida aquática modificada”, alerta o deputado estadual Marquito, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia.
Além de fatores climáticos extremos, especialmente estiagens, contribuiriam para isso também o manejo e a exploração intensiva. O risco mais preocupante é a salinização do manancial, que causaria seu colapso como fonte de água potável. Por causa do descompasso entre a extração e recomposição natural, a lagoa já vem perdendo prevalência, obrigando a Casan a recorrer cada vez mais ao lençol freático para abastecer a região.
Aí é que mora outro problema. O precário sistema de saneamento básico da região, agravado pelo crescimento predial geométrico e ainda mais permissivo após o novo plano diretor, vêm impactando cada vez mais também nessa fonte. Com isso, muitos poços se tornam rapidamente inviáveis de potabilização, por causa do alto índice de contaminantes. “Alertamos muito sobre isso durante a discussão do plano diretor”, lamenta Alencar Vigano, ex-presidente da Amocam e membro da Conselho Municipal de Meio-Ambiente.
O primeiro passo para enfrentar o problema, na opinião de lideranças locais, seria a taxação da Casan pela exploração da água da Lagoa do Peri, para recuperar o ecossistema. A lagoa integra o Monumento Municipal Lagoa do Peri (Mona-Peri), que além de ser o maior manancial de água doce da cidade e estação balneária, abriga importante acervo de animais silvestres e vegetação. “Não sei porque até hoje não se conseguiu concretizar essa taxação”, questiona o ex-presidente do Conselho de Desenvolvimento regional, Sérgio Aspar.
O segundo passo, prometido há muitos anos, e nunca concretizado, seria a integração da Costa Leste da Ilha ao Norte da Ilha, desafogando o Sul da Ilha. A Casan acena com a interligação da região ao sistema da Grande Florianópolis como solução. Porém, pressionada pelo crescimento exponencial de municípios como Biguaçu, Palhoça, São José e Tijucas, entre outros, tem recorrido até mesmo a pequenos cursos hídricos como alternativa de captação, o que evidencia a fragilidade desta solução.
Outra saída seria o poder público exercer maior controle sobre a ocupação e expansão na região. “Precisamos enxergar que somos uma ilha, a cidade não pode ser planejada como território irrestrito”, defende o deputado Marquito, autor da convocação de audiência sobre a Lagoa do Peri. Coincidência ou não, moradores do Campeche e região têm reportado interrupções no fornecimento de água mais frequentes nos últimos meses.
(Foto: PMF/Divulgação/JC)