Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O despejo de efluente de esgoto tratado em mar aberto, no Campeche, por meio de um emissário submarino, polêmica solução de saneamento que atormenta a população do Campeche e Sul da Ilha há mais de 14 anos – desde sua concepção e anúncio público pela Casan em 2009 -, parece mais próxima de ser derrotada. Rejeitada diversas vezes pela população regional em audiências e eventos técnicos, a instalação do equipamento já não aparece no novo cenário de retomada das obras de esgoto no Sul da Ilha.
Sob pressão da gestão municipal, que ameaça impor uma ‘solução liberal’ também para a questão do saneamento no Sul da Ilha, e acossada por uma campanha pela sua privatização que começa a ganhar corpo no estado, a Casan anunciou, na segunda quinzena de julho, a retomada das obras da rede de esgoto do Campeche e Sul da Ilha, que deve acontecer ainda neste ano, possivelmente em meados de novembro.
“Até o dia 30 de outubro estará assinado o contrato para a retomada das obras da ETE do Rio Tavares”, garantiu o diretor de Operação e Expansão da companhia, Pedro Joel Hortmann. A partir do reinício efetivo dos trabalhos, segundo ele, a previsão é de que a conclusão se dê no prazo de até 18 meses, tanto da estação quanto das obras complementares da rede e solução para o destino do efluente.
O fato auspicioso para a população do Campeche e Sul da Ilha é o novo destino definido para o efluente tratado pela estação, motivo do último embargo imposto pelo ICMBio, há mais de três anos. Diante dos entraves para viabilizar o polêmico emissário submarino e da negativa do órgão para despejo de efluentes no Rio Tavares, mesmo que em caráter provisório, a companhia anunciou que o destino do resíduo agora serão valas de amortecimento na região do Saco dos Limões, onde já começou a se esboçar também um movimento de resistência.
A empreitada será viabilizada por meio de dois emissários terrestres – um para a coleta do esgoto bruto da rede instalada e outro para transferência do material tratado da ETE para a zona de amortecimento – numa extensão de 10 quilômetros. O custo total de conclusão da rede do Campeche, envolvendo estação, rede e emissários terrestres, é estimado em mais de R$ 60 milhões, cerca de 50% apenas para custeio do novo destino do efluente.
O volumoso capital injetado nessa solução aponta que talvez ela não seja assim tão provisória, ainda mais diante da delicada situação financeira da companhia, ameaçada inclusive de privatização. Num cenário de privatização, o custo do emissário, estimado em 50 milhões de dólares, seria praticamente proibitivo. O equipamento é visto quase como um monstrengo pelos moradores do Sul da Ilha, pelo risco que representa para o ecossistema marinho, balneabilidade das praias e à própria economia da região.
“Acho que essa renúncia da Casan ao emissário, que a gente sabe que se for implantado será para receber efluente de toda a cidade e não apenas do Sul da Ilha, ainda não está assim tão clara; precisamos seguir vigilantes”, alerta o presidente de Comissão de Turismo e Meio-Ambiente da Assembleia, o deputado estadual Marquito, morador do Sul da Ilha. “Essa licença ambiental que a Casan tem para construir o emissário terrestre é para 200 litros por segundo, que não atende todo o Sul da Ilha; o emissário submarino continua no radar da Casan”, avisa Horstmann, confirmando que pode ter sido vencida uma ‘batalha contra o monstro’, mas ainda não a ‘guerra’. (Foto: Divulgação/Arquivo/JC)