Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Inaugurada há 15 anos e um dos poucos serviços públicos que gozam de prestígio e unanimidade popular no Sul da Ilha, a policlínica e Unidade de Pronto Atendimento (UPA Sul), no Rio Tavares, está com os dias contados. Numa decisão inesperada, o governo municipal anunciou, na segunda quinzena de maio, por meio de decisão unilateral, a transferência dos serviços da unidade para um novo complexo hospitalar projetado para funcionar no antigo aeroporto internacional Hercílio Luz, no bairro Carianos, no sudoeste da Ilha.
Sob alegado alto custo para promover a revitalização do prédio que abriga a unidade, localizado em ponto estratégico da região, ao lado do Terminal Integrado do Rio Tavares (Tirio), e também devido a supostas dificuldades técnicas para sua ‘necessária’ ampliação, a Prefeitura selou os destinos da UPA sem consultar a comunidade. Não bastasse a transferência, anunciou também que a partir do próximo ano a unidade do Sul da Ilha, que atende 24 horas, funcionará sob gestão híbrida, envolvendo a participação das polêmicas Organizações Sociais.
A súbita decisão de transferência, sem tirar o termômetro da aceitação popular, literalmente chocou a maioria dos moradores do Sul da Ilha, gerando um clamor contrário também muito próximo da unanimidade. Mais pelo deslocamento da unidade para um local distante no núcleo central da região, do que propriamente pela gestão privada, solução neoliberal que possui alguma ressonância na região, mesmo com vários exemplos que não deram certo na própria capital catarinense.
Com uma equipe de cerca de 250 profissionais, entre UPA e policlínica, conforme dados do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal (Sintrasem), a unidade do Sul da Ilha realiza em média cerca de 10 mil atendimentos mensais. No dia 31/05, o Sintrasem promoveu um protesto contra a mudança de endereço e gestão da UPA Sul, que reuniu em torno de 100 pessoas, a maioria servidores públicos, próximo à unidade. “É um retrocesso retirar a UPA Sul do lado do Tirio, que foi uma solução acertada de planejamento urbano; é desfazer uma conquista da comunidade do Sul da Ilha”, afirmou o vereador Afrânio Boppré. “Se fosse temporário, por alguns meses, para possibilitar da reforma do prédio, seria coerente; em caráter definitivo, é um grande erro, inaceitável”, decretou o parlamentar.
“É uma solução que vai precarizar os serviços de saúde regional, pela distância do núcleo central da região, e sobrecarregar os postos de saúde locais”, faz coro a presidente da Associação de Moradores do Campeche (Amocam), Roseane Panini. “Recebemos a notícia da transferência com preocupação, muitas dúvidas e poucas respostas; até agora não temos um canal para conversar”, lamentou Paulo Rabeschini, membro do Conselho de Saúde do Campeche. “Repudio essa decisão e tudo faremos para impedir a mudança da UPA; trata-se de um desrespeito com milhares de usuários”, protestou a ex-vereadora e ex-funcionária da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Janete Teixeira, moradora do Campeche há 37 anos. (Foto: Sérgio Aspar/Divulgação/JC)