Angelo Poletto Mendes/Redação JC
A Prefeitura planeja inserir a policlínica e Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Sul da Ilha num ambicioso complexo hospitalar projetado para funcionar no prédio do antigo aeroporto da capital, no bairro Carianos, no sudoeste da Ilha, que está sendo chamado de Hospital Dia. Com área de 12 mil metros quadrados, segundo a gestão municipal, o espaço contemplará estrutura para cirurgias de baixa complexidade, Centro de Atenção Psicossocial 24 horas (CAPs), Centro de Atendimento à Mulher Vítima de Violência e Escola Pública, Centro Oftalmológico com ótica pública, entre outros, além da policlínica e UPA Sul.
A arrojada iniciativa envolve intrincada negociação com a gestora do espaço, o grupo suíço que detém a concessão do novo aeroporto da capital, envolvendo locação e contrapartidas. O custo estimado pelo município para viabilizar a transformação do prédio, praticamente ocioso há mais de dois anos, desde a inauguração do Floripa Airport, é de R$ 45 milhões, entre obras físicas e aquisição de equipamentos, quase todo custeado pelo próprio município. A expectativa da Prefeitura é tornar realidade o ambicioso projeto ainda antes do final deste ano.
O custo para revitalizar o prédio da UPA Sul, no Rio Tavares, considerado elevado e impeditivo de continuidade do serviço no local, talvez não seja, portanto, o único motivo para transferência da unidade. Transferir também sua grande demanda de usuários para o novo complexo será crucial para funcionar como salvaguarda e minimizar o risco de insucesso do vultoso projeto envolvendo recursos públicos. O novo complexo mira funcionar, inicialmente, sob forma híbrida, com gestão de Organização Social.
Mais do que a transferência de endereço, no âmbito dos funcionários públicos municipais a principal indignação é com a concessão do serviço à gestão privada. “Já está provado que a exploração privada de serviços essenciais é a porta de entrada para a corrupção; aqui mesmo, na capital, temos exemplos que não deram certo, nas áreas de educação, Zona Azul e limpeza pública, que deixaram um prejuízo de mais de R$ 25 milhões para o município”, dispara o presidente do Sintrasem, Renê Munaro.
O prefeito da capital, Topázio Neto, no entanto, defende a concessão à gestão de OS como ‘solução moderna’ de administração pública. O modelo, de acordo com ele, traria ‘enormes vantagens’ para a população, economia de recursos para os cofres públicos e não implicaria em prejuízo para os servidores. “Os nossos servidores concursados, da prefeitura, médicos, enfermeiros e auxiliares que quiserem continuar trabalhando nesses espaços, vão poder continuar trabalhando normalmente, sem nenhum direito retirado”, afirmou ele, em entrevista a veículo da mídia corporativa local. Topázio elencou ainda como vantagem a imunização ao impacto de greves.
Sobre a saída da UPA de seu atual endereço, que enfrenta grande resistência no Sul da Ilha, o prefeito insiste que o principal motivo seria o alto custo das obras de reformas. “Chegamos a orçar uma reforma que custaria mais de R$ 17 milhões; ou seja, praticamente uma construção nova em terreno já limitado”, argumentou. Sobre a distância do novo local, em relação ao atual, Topázio prometeu ampliar as linhas de ônibus que saem do Tirio em direção a Carianos, e deu a largada recentemente a obras de melhoria da estrutura viária do bairro.
O vereador Afrânio Boppré alerta que outros impeditivos pairam também sobre o projeto. “O aeroporto fica numa região conhecida como sítio aeroportuário, com regras sanitárias diferenciadas, que dependem de chancela federal, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária”, afirmou, decorrente do risco de ingresso de contaminantes via fluxos migratórios. “Vamos cobrar o governo, para saber se tem documentação para isso”, disse. O parlamentar também critica a ‘gestão privada’ na saúde municipal. (Foto: Willi Heisterkamp/Divulgação/Arquivo/JC)