Angelo Poletto Mendes/Redação JC
A aprovação do projeto de revisão do plano diretor foi recebido com tristeza e preocupação por líderes comunitários e moradores do Campeche e Sul da Ilha. “Esse plano é uma sentença de morte para nós. Nosso bairro já enfrenta uma expansão incompatível com a estrutura que tem, sem saneamento e infraestrutura; isso vai triplicar a população na região e levar fatalmente ao colapso do Campeche”, protestou indignada a nativa Maria Lúcia das Chagas, ex-presidente da Associação de Moradores do bairro.
“Na Avenida Pequeno Príncipe, quando chove forte já alaga e aflora uma mistura de água e esgoto, imagina com prédios de seis ou mais andares”. Para ela, o projeto foi imposto como um ‘prato-pronto’, sem a participação das comunidades. “Nós não fomos ouvidos, não é isso que queremos”, desabafou a líder comunitária, que também atua no Movimento Campeche Praia Limpa.
Membro do Conselho da Cidade e presidente do Conselho Comunitário da Costa de Dentro, Eugênio Gonçalves alerta para o impacto também sobre diversas outras áreas do Sul da Ilha, como Armação, Pântano do Sul e Açores, entre outras, sem saneamento, água e infra-estrutura, e com mobilidade ainda mais precária. “Essa política de incentivos vai generalizar o adensamento, agravada por outros pontos, como a flexibilização da construção de garagem nos prédios, sobrecarregando os espaços públicos”.
O presidente da União Florianopolitana de Entidades Comunitárias (Ufeco), Alencar Vigano, também morador do Campeche, vê o risco de disseminação da verticalização até mesmo para ruas intermediárias da região, graças a diversas chicanas urbanísticas. “Esse projeto é um verdadeiro cavalo-de-troia”, definiu.
“Muito triste acordar no aniversário de Florianópolis após a votação do plano diretor. Um acordar cinza e estranho. Um debate raso, contaminado por uma política irresponsável. Como dizia Franklin Cascaes, a maldição da Ilha era ser bela e o poder econômico não perdoaria. Difícil”, escreveu o deputado estadual e ex-vereador Marquito, morador do Morro das Pedras, em suas redes sociais. (Foto: Estevam Scuoteguazza/Divulgação/Arquivo/JC).