Angelo Poletto Mendes/Redação JC
A caveira-de-burro que paira sobre o sistema de saneamento do Campeche, iniciado há quase 14 anos e até hoje inativo, acaba de ser novamente exorcizada. Depois de quase dois anos paralisada, saiu finalmente nova licença do Instituto de Meio-Ambiente (IMA) para retomada das obras de construção da futura Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Rio Tavares, equipamento crucial para acionar mais de 46 quilômetros de tubulações subterrâneas instaladas na região há mais de 10 anos.
“O IMA liberou a licença para continuidade da obra da ETE Rio Tavares, com o comprometimento da Casan de mudança do ponto de disposição do efluente final em um ponto localizado no Saco dos Limões (era no Rio Tavares, como o Jornal do Campeche acompanha). A companhia está tomando providências para continuidade de implantação desse sistema de esgotamento sanitário com estas alterações”, escreveu à redação no dia 14/04 a jornalista Natália Viana, da assessoria de imprensa da estatal, sem maior detalhamento sobre o processo de retomada.
O reinício efetivo, no entanto, ainda é uma incógnita, visto que o canteiro de obras do equipamento foi desativado. “Acredito que terá que ser promovida nova licitação para contratação da empresa executora”, contemporiza o presidente da Comissão de Meio-Ambiente da Câmara Municipal, vereador Marcos de Abreu, o Marquito. Acompanhado de comitiva da Câmara, dirigentes da Casan, lideranças comunitárias e equipe da Prefeitura, o vereador esteve em no final de março em visita às instalações da ETE, situadas atrás do antigo Campo do Zaire.
Em condições ideais, a partir da efetiva retomada das obras, a nova estação deve demorar ainda cerca de um ano para ficar pronta, o que remete a ativação da rede, na melhor das hipóteses, para o final de 2023. Paralelamente, a Casan ainda precisará finalizar a instalação de quase 12 quilômetros de tubulações subterrâneas em áreas delicadas do sistema viário local (parte da Avenida Pequeno Príncipe e a Rua do Gramal inteira). Terá também que revisar e desobstruir os quase 50 quilômetros de tubulações já instaladas, que com frequência são alvo de despejo irregular de esgoto.
Adicionalmente, terá ainda que estender 17 quilômetros de tubulações para ligar a ETE ao Saco dos Limões, que vai impactar no próprio custo da obra. Só a estação tem custo estimado em R$34 milhões. As boas notícias do processo são os novos destinos do efluente tratado pela estação, que terá capacidade máxima de processamento de 200 litros por segundo, em nível terciário (alta depuração), atendendo a uma população de 90 mil habitantes. Num primeiro momento, no entanto, a operação atenderá 25 mil pessoas, dimensionada no atual projeto em instalação, que foi deflagrado em 2008, quando o Campeche ainda engatinhava como pólo urbano.
Descartado o despejo no Rio Tavares, a dispersão se dará por meio de valas de amortecimento e infiltração no solo. Vereador e engenheiro-agrônomo, Marquito acredita que essa forma de destinação do efluente pode ser ampliada e adotada até como solução definitiva para operação da ETE, afastando com isso também o ‘fantasma’ do temido emissário submarino de esgoto, que enfrenta grande rejeição da população local. O parlamentar destaca que destinou inclusive R$ 50 mil de sua cota de emendas impositivas para a Prefeitura aprofundar estudos e buscar áreas para ampliação dessa solução alternativa. “Nossa posição é contrária ao emissário submarino e também não aceitamos essa carga dentro do Rio Tavares, que é uma área extrativista, de proteção e conservação, e que também impacta na Baía Sul e na atividade da maricultura”, assinalou.
Essa forma de destinação, desde que mantida em caráter terciário permanente, acredita o parlamentar, poderia inclusive contribuir para a recarga do próprio lençol freático da região, que vem sendo bastante exigido e já responde hoje por 50% de toda a água que abastece a Costa Leste-Sul da Ilha. Seria, a grosso-modo, uma espécie de reuso orgânico, contando com a depuração do efluente pelas diversas camadas do subsolo. “Em relação à infiltração, sim; continuamos estudando essa possibilidade. Acho que pode ser uma solução alternativa e aplicável em alguns cenários”, confirmou o engenheiro da Casan, Alexandre Trevisan.
(Foto: MundoMar/Divulgação/JC)