20 de maio de 2021

TRADICIONAL rancho de pesca do Campeche é devastado pelo fogo

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Pouco mais de cinco anos após o devastador incêndio que transformou em cinzas centenário rancho de pesca no Campeche, novo incêndio de proporções similares destruiu completamente o rancho reerguido no mesmo local, gerando muita comoção na região, entre pescadores, lideranças comunitárias e moradores. O rancho devastado pertence ao pescador nativo Aparício Inácio, filho do lendário Deca Rafael, que reza a lenda teria travado contato com o ex-piloto e escritor francês Saint Exupèry, nos anos 20 do século passado, no Campeche.
Dessa feita, o incêndio foi ainda mais cruel, porque aconteceu exatamente na véspera do início da tradicional safra da tainha, que começa em 01/05, período mais esperado do ano pelos pescadores e boa parte dos moradores locais. O rancho estava todo equipado, inclusive com geladeira, freezer, fogão e outros utensílios, para abrigo e refeição dos ‘camaradas’ que atuam na pesca. “Foi muita maldade o que fizeram; meu pai está muito triste”, lamentou Pedro Inácio, patrão da rede local.
O prejuízo total do incêndio, segundo ele, supera R$ 350 mil. Além de eletrodomésticos e utensílios, foram destruídas duas canoas, cada uma custando atualmente cerca de R$ 45 mil, duas redes, cujo custo excede R$ 55 mil cada, além do próprio rancho, de 135 metros quadrados, todo edificado em eucalipto tratado, por onde costumavam transitar cerca de 50 pescadores e camaradas, durante o período da safra.
O pescador disse confiar na polícia para encontrar os culpados pelo crime. “Toda perícia já foi feita, existem muitos indícios, agora é esperar e confiar na polícia para apurar os fatos”, afirmou. O pescador lembra que, em 2008, o rancho local também já fora alvo de outra tentativa de incêndio, essa felizmente abortada a tempo, graças a intervenção de seu tio, o falecido pescador Getúlio Inácio. O rancho fica situado a cerca de 100 metros do antigo e famoso rancho do Getúlio.
“Por que só o rancho do Aparício?”, questiona ele, lembrando que existem outros três ranchos ao longo da orla do Campeche. “Meu pai é uma pessoa querida, respeitada, eu também não tenho inimizades, precisamos encontrar uma resposta sobre o por que disso”, comentou. Para ele, isso evidencia uma espécie de perseguição, ao longo do tempo, também à pesca e à própria tradição do Campeche.
Apesar do choque inicial, o pescador garante que já arregaçou as mangas para reconstruir novamente o rancho;  para isso, já deu a largada a uma campanha de arrecadação de recursos no bairro. “A Pesca da Tainha hoje é tombada como patrimônio imaterial do município e vamos lutar para manter essa tradição”, afirmou. Em 2016, o incêndio que destruiu o rancho aconteceu em janeiro, em plena temporada, dizimando diversas relíquias, entre elas duas canoas centenárias feitas com troncos de garapuvus.
(Foto: Pedro Inácio/Divulgação/Arquivo/JC)