Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Apesar de seus benefícios urbanísticos e de mobilidade, a pretendida ‘transformação’ da Via Expressa Sul em Beira-Mar Sul não empolga algumas lideranças comunitárias locais, que veem com reticência o processo. “Na sua própria essência, mirando como exemplo da Beira Mar Norte, já se percebe um desvirtuamento da área, que deveria ser concebida como um parque municipal para a cidade”, dispara o historiador e ex-delegado distrital do Pântano do Sul no Núcleo Gestor Municipal, Gert Schinke.
Para ele, o modelo de padrão urbanístico escolhido indica que, a médio prazo, estará pavimentado também o caminho para a própria ocupação vertical de seu entorno, a exemplo da referida Beira Mar Norte. ‘Hoje a área pertence a União, mas nada impede que amanhã, por meio de uma canetada, não possa passar ao controle do município”, pondera. Schinke também vê risco de um aprofundamento da ‘especulação imobiliária’ que atinge a região, pondo em risco sua própria sustentabilidade.
O ex-delegado distrital do Campeche, Ataíde Silva, acredita que a revitalização da Expressa Sul integre um conjunto de iniciativas para contemplar uma nova escalada liberalizante da construção civil, incluindo até mesmo a já rejeitada verticalização predial do Sul da Ilha, que estaria sendo negociada nos bastidores. O próprio ‘emissário de esgoto’, lembra ele, estaria no bojo desse movimento, para chancelar o predialismo.
“O Sul da Ilha não tem condições de água, esgoto e mobilidade para isso. Se acontecer, acabamos de vez com a região e com toda valorização que se alcançou até aqui”, avalia. Já o líder comunitário da Tapera e atual subprefeito do Sul da Ilha, André Carlos da Silva, acredita que a revitalização da Expressa Sul trará muitos benefícios, atraindo novos investimentos e empregos. “O crescimento é necessário e saudável, não podemos nos fechar; desde que aconteça, claro, dentro de certos parâmetros”, pontuou.
O secretário de Obras, Valter Gallina, garante que a revitalização não contém objetivo oculto, senão o resgaste de uma dívida histórica com a região. “O objetivo da Beira Mar Sul é a valorização dos moradores do Sul da Ilha”, assinalou. Gallina revelou, no entanto, que algumas medidas ‘corretivas’ ao plano diretor concebidas pelo governo municipal estão na iminência de desembarcar na Câmara. Essas medidas, conforme ele, seriam muito pontuais, apenas para corrigir algumas coisas e melhorar o ambiente de investimentos na cidade, mas não quis antecipar maiores detalhes.(Foto: Cristiano Andujar/PMF/Divulgação/JC)