Angelo Poletto Mendes/Redação JC
A primeira temporada da pandemia na capital catarinense – quiçá seja também a única – chega ao final sem deixar saudades, pelo menos para a maioria dos comerciantes, donos de restaurantes, estabelecimentos de hospedagem e trade turístico em geral. Apesar das restrições limitadas que perduraram ao longo de todo o período de veraneio – só no final de fevereiro houve novamente o recrudescimento das medidas protetivas devido ao avanço da pandemia -, os números indicam não só um verão decepcionante, mas também muitas dificuldades para economia da capital no decorrer do ano.
“Já se esperava uma temporada fraca, em função das circunstâncias, mas o desempenho acabou ficou ainda mais abaixo do que a gente previa”, assinalou o ex-superintendente de Turismo da capital e empreendedor da área de eventos, Fábio Queiroz. Nem mesmo o tradicional período da virada, até meados de janeiro, cumpriu as expectativas. Os índices de ocupação na hotelaria da capital nesse período, que normalmente atingem em média 97%, neste ano ficaram em modestos 64%, conforme Queiroz, que deixou o staff do governo municipal recentemente, após a dança das cadeiras promovida pelo prefeito Gean para o segundo mandato.
A principal causa apontada para o desempenho frustrante foi novamente a ausência dos argentinos, que dessa vez realmente não deram as caras. Os turistas nacionais também foram escassos. A esquálida temporada deve resultar no fechamento de muitas empresas que sobreviveram à pandemia, gerando ainda mais desemprego. “No ano passado, tivemos uma temporada inteira antes do início da pandemia, o que permitiu uma reserva de caixa para a travessia”, ponderou. “A maioria das empresas que fecharam foram aquelas em dificuldades, mas agora corremos o sério risco de fechamento também daquelas mais equilibradas”, complementa.
No ramo de restaurantes, de acordo com Queiroz, o índice de quebra já atingiria 35% a 40% dos empreendimentos, com um saldo atual de 4,5 mil desempregados somente nesse setor. “Não tivemos temporada”, afirma Renato Geske, dono de farmácia tradicional na Lagoa da Conceição e vereador reeleito. “Na Lagoa, temos muitos negócios fechando as portas, reduzindo quadro e demitindo”, lamenta.
Dono de tradicional pousada no Campeche, o empresário Carlos Krebs revela que depois de 17 anos decidiu encerrar, desde o final de janeiro, o atendimento por diárias no seu estabelecimento, passando a atuar apenas com locações mensal e anual. “Além da temporada decepcionante, a pandemia também vem nos impondo um esquema de medidas protetivas que inviabiliza esse modelo de trabalho”, justifica. O empresário admite que também acreditava numa temporada razoável, por conta do turismo reprimido por quase um ano, mas como a maioria também acabou decepcionado. (Foto: Estevam Scuoteguazza/Divulgação/JC)