Angelo Poletto Mendes/Redação JC
No embalo do desastre ambiental que castigou a Lagoa da Conceição, forças políticas e econômicas da cidade, notadamente aquelas sem raízes no Sul da Ilha e que ainda veem a região como ‘porta dos fundos’ da capital, apesar de sua pujança residencial e comercial, voltam a se aglutinar em torno do polêmico projeto de implantação de um emissário submarino de esgoto no Campeche. O temido equipamento, cuja simples menção causa urticária em boa parte dos moradores locais, é visto como saída ‘mágica’ para equacionar os problemas do saneamento das costas Leste e Sul da Ilha e da própria capital.
O desastre ambiental na Lagoa da Conceição, contudo, reavivou a percepção e a mobilização de moradores e lideranças comunitárias acerca dos riscos que podem representar para o ecossistema marinho e para a economia da região um equipamento dessa magnitude. O efluente que vazou da estação da Lagoa será apenas uma minúscula fração no volume do efluente que se planeja despejar mar adentro via emissário. O sistema abarcaria ainda o esgoto de uma população próxima de 100 mil moradores do Sul da Ilha e, futuramente, talvez até de regiões vizinhas.
“Se numa estação de pequeno porte como essa, que é facilmente monitorável, a Casan deixou acontecer isso, fica evidenciado que sua confiabilidade é muito duvidosa, ainda para a gestão de um equipamento tão complexo e delicado como o emissário”, avalia o ex-delegado distrital do Campeche no Plano Diretor Participativo, Ataíde Silva. Só a manutenção anual do emissário, conforme Silva, custaria em torno de R$ 5 milhões anuais. “Se falharam na manutenção de uma pequena estação como essa da Lagoa, de baixo custo, como vamos confiar que não falharão num equipamento desse porte”, reforça.
“O emissário é uma solução ultrapassada, que já está sendo abandonado em vários países mais avançados, por conta de seu alto impacto ambiental e econômico”, argumenta a presidente da Associação dos Moradores do Novo Campeche, Maria Isabel Gonçalves Koerner. Afora a desconfiança quanto ao efluente que desembocaria no sistema marinho, que pode provocar grandes danos ambientais, a dirigente alerta para outras intercorrências do modelo, como a desvalorização econômica, turística e imobiliária da região.
“Com as conhecidas ressacas que temos todos os anos, fatalmente a balneabilidade de nossas praias ficará mais cedo ou mais tarde comprometida, sem falar nos riscos de rompimento do equipamento, que podem provocar até a interdição da orla”, pondera Isabel. A implantação do sistema já mostrou forte rejeição comunitária nas audiências públicas locais capitaneadas pelo Instituto de Meio-Ambiente (IMA/SC), que terá a incumbência final de chancelar ou não o projeto.
O ex-presidente do Conselho de Desenvolvimento do Sul da Ilha (Codesi), Sérgio Aspar, também vê muitas dificuldades para a viabilização do emissário, depois do desastre na Lagoa. “Não há dúvidas de que a Casan sai desgastada desse episódio”, avalia. “Acho que o momento é muito oportuno para sentarmos à mesa e discutirmos seriamente a alternativa do reuso como destino sustentável do esgoto tratado no Campeche e Sul da Ilha”, defende Isabel. (Foto: IMA-SC/Divulgação/JC)