Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Cinco anos depois da histórica enxurrada de dejetos que castigou as praias do Norte da Ilha e abalou a imagem da capital em plena temporada, devido ao extravasamento do Rio do Brás, no verão de 2016, a capital enfrentou novo desastre ambiental, dessa vez de proporções ainda mais devastadoras. O rompimento da chamada lagoa de evapo-infiltração da estação de esgoto da Lagoa da Conceição, ocorrida quase no final de janeiro durante a enxurrada que castigou a capital, resultou no despejo de milhões de litros de efluente de esgoto tratado em nível secundário – dotado de alta carga de nutrientes orgânicos -, nas águas da Lagoa da Conceição.
Além do dano incalculável ao já degradado ecossistema lacustre, o acidente deixou um rastro de destruição, matou animais domésticos e causou o colapso social e econômico de mais de 30 famílias que residem no trajeto da enxurrada de efluentes, que até agora lutam para reorganizar suas vidas. Quase uma centena de pessoas ficou desabrigada ou desalojada imediatamente após o acidente, instando a intervenção de órgãos ambientais, governo municipal e Ministério Público para apurar as causas do rompimento e intermediar a reparação dos danos materiais e econômicos às famílias atingidas.
Apesar de alguma polêmica acerca dos detalhes do processo indenizatório, a Casan – concessionária exclusiva do serviço de esgoto na capital – não vem se furtando da responsabilidade legal de reparar os atingidos e de obviamente reparar a estrutura. No frigir dos ovos, contudo, o legado do desastre vai muito além da questão local, e escancara mais uma vez para a toda a cidade a grande fragilidade do sistema de saneamento da capital.
A companhia atribui o rompimento ao excesso de chuvas, que teria extrapolado a capacidade volumétrica do reservatório. Moradores diretamente atingidos pelo acidente, contudo, garantem que já tinham alertado a empresa sobre vazamentos, mas que técnicos da Casan teria visitado o local e minimizado seus riscos. O Ministério Público Federal (MPF) informa que abriu inquérito para apurar se houve negligência da empresa, e a Prefeitura, por sua vez, anunciou a aplicação de uma milionária multa à empresa.
Instalada numa área de 30 mil metros quadrados de depressão natural, segundo a Casan, a lagoa que vazou recebe o efluente tratado, em nível secundário, de cerca de 32 mil moradores da região da Lagoa da Conceição. A lagoa artificial tem a função de armazenar o efluente e devolvê-lo à natureza por meio de infiltração e evaporação. Laboratórios químicos independentes, apontaram num primeiro momento indícios de matéria orgânica bruta no efluente, suspeita depois rechaçada por meio de análises mais refinadas. Coincidentemente, contudo, passado pouco mais de 30 dias da enxurrada de efluentes, uma grande mortandade de peixes vem acometendo a lagoa, que tem limitadíssima capacidade de dispersão, dada sua ausência de fluxo de correntes. O próprio efluente tratado, alertam bioquímicos, não passa de uma água contaminada, que contém alta carga de resíduos orgânicos que consomem oxigênio e tem lenta assimilação pelo sistema lacustre. Cenas dantescas de peixes e crustáceos morrendo asfixiados vêm viralizando pelas redes sociais. Outras causas um tanto inusitadas para o fenômeno também pipocam na mídia comercial, entre elas até o ingresso de resinas dos pínus elliotis da reserva florestal do Rio Vermelho nas águas da lagoa. (Leonardo Sousa/PMF/Divulgação/JC)