14 de outubro de 2020

Restrição à captação na Lagoa do Peri pode levar a racionamento

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Os tempos de água abundante no Sul da Ilha, mesmo durante as temporadas mais quentes, ficaram definitivamente para trás. A região corre o risco de enfrentar pela primeira vez na sua história um incomum racionamento de água, que pode ser decretada ainda nesta temporada. Esse quadro dramático decorre principalmente do descompasso crescente entre o consumo e a capacidade de atendimento do sistema de água da região, agravado por circunstâncias climáticas desfavoráveis.
Principal manancial de água da capital, responsável pelo abastecimento de todo o Sul da Ilha e também Leste da Ilha (Lagoa da Conceição e Barra da Lagoa), num contingente estimado em mais de 140 mil consumidores, a Lagoa do Peri vem enfrentando um declínio histórico de seu reservatório. Com volume total estimado em 20 milhões de litros, estaria atualmente pelo menos 20% abaixo do normal, impondo restrições cada vez maiores à captação no local.
O recuo flagrante nas margens da lagoa acendeu o sinal de alerta para o risco colapso do manancial, suscetível à salinização. Engenheiros sustentam que esse risco é mínimo e ainda alegam que a lagoa é profunda em seu miolo, e que o encolhimento nas margens não seria o parâmetro ideal sobre seus volumes. “O risco de salinização está absolutamente sob controle; fazemos acompanhamento diários dos níveis da lagoa”, garante o diretor de Operação e Expansão da Casan, Fábio Krieger.
Mesmo assim, a empresa vem adotando consecutivas reduções na captação, que hoje já estariam 75% abaixo do normal. No verão, a empresa pretende reduzir ainda mais essa captação, ficando em apenas 15% dos volumes permitidos pela outorga pública, que é de 200 litros por segundo. Com a captação mais restrita, o abastecimento da Costa Leste-Sul é complementado com água extraída do lençol freático do Campeche, por meio de 12 poços artesianos, no Campeche, Rio Tavares e Ribeirão da Ilha.
A maioria dos poços, revela Krieger, possui água de boa qualidade, que facilita o tratamento e inserção na rede, mas o conjunto todo de poços é insuficiente para compensar a perda da fonte principal, gerando déficit na capacidade de fornecimento. O próprio lençol freático, contudo, possui diversos impeditivos para responder de forma sistemática como fonte principal de abastecimento. O sistema depende de chuvas para recarga, e cada poço necessita de períodos de interrupção para evitar a secagem. Além disso, também é suscetível de salinização, no caso de extração exacerbada e contínua por períodos mais longos.
Com o crescimento cada vez mais vertiginoso do Campeche e região e a sucessiva redução dos índices pluviométricos, esse desequilíbrio vem se acentuando de forma cada vez mais latente. “O racionamento é o nosso plano B, para situações críticas, mas se a estiagem persistir talvez tenha que se adotar”, admite o dirigente.
Para compensar as perdas do manancial principal, a Casan informa que está finalmente licitando a contratação de obras de integração da rede do Sul da Ilha ao sistema municipal, permitindo a acesso de água oriunda dos mananciais de Santo Amaro da Imperatriz, que abastecem cerca de 60% do município. Essa operação, contudo, ainda deve demandar pelo menos seis meses para conclusão.
A empresa informa que também está concluindo a conexão de alguns poços no Rio Vermelho à rede da Barra da Lagoa, desafogando um pouco mais o sistema do Sul da Ilha. Paralelamente, está investindo ainda numa ampla campanha, em escala estadual, defendendo nova cultura no manuseio e consumo do insumo. A campanha propõe mudanças nos hábitos do dia a dia para economia de água. “Felizmente, até agora temos obtido bons resultados nesse sentido, senão a situação poderia estar muito mais grave”, assinala Krieger. (Foto: Fernando Clark Nunes/Divulgação/JC)