3 de junho de 2020

TEMPORADA da tainha tem regras especiais para proteger pescadores

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Em meio a circunstâncias inusitadas, em função da necessidade da adoção de protocolos de saúde para prevenção do coronavírus, a tradicional safra da tainha termina seu primeiro mês sem resultados muito animadores. No Campeche, um dos principais polos das pesca artesanal na capital catarinense, onde atuam quatro redes, os volumes de captura do tradicional pescado foram bastante tímidos até meados de maio.
Vinte dias após o início da safra, que pela primeira vez nos últimos anos teve início sem a tradicional missa de abertura do dia Primeiro de Maio, – que neste ano chegaria a sua 15ª edição -, em função das restrições a aglomeração de pessoas, havia registro de escassos lances na região. Os dois mais significativos foram de modestos 200 e 300 peixes.
O presidente da Associação dos Pescadores Artesanais do Campeche, Pedro Inácio, acredita que a estiagem também pode estar prejudicando o deslocamento dos cardumes. “As tainhas saem das lagoas, que estão todas muito baixas”, observou. Mesmo assim, o pescador acredita que o desempenho da safra deste ano tende a ser melhor que à do ano passado, considerada uma das mais fracas dos últimos anos.
A Federação dos Pescadores de Santa Catarina (Fepesc) calcula que em todo o estado devem ser capturadas até duas mil toneladas nesta safra. “Neste ano pelo menos já tivemos períodos de frio; no ano passado, foi muito quente”, comentou Inácio.  Segundo ele, normalmente o período de captura mais intensa da tainha costuma acontecer até meados de junho, embora a safra se estenda até o final de julho.
Nesta safra, pela primeira vez, não está permitida sequer a participação dos tradicionais ‘camaradas’, aquele pessoal que se integra às equipes para a puxada final das redes de arrasto e leva para casa o seu ‘quinhão’, por causa da necessidade de distanciamento interpessoal.
Mesmo assim, avisa Pedro, o tradicional quinhão para os ‘amigos de fé’ não costuma ser esquecido na partilha dos lances. Nos próprios ranchos, tradicional ponto de confraternização dos pescadores, o acesso é restrito aos cozinheiros e remeiros, informou o pescador. O uso de máscaras e álcool gel é regra pelos pescadores nesta safra.
VACINAÇÃO – Em operação também inusitada, equipes de saúde do município estiveram recentemente nos tradicionais polos pesqueiros da Ilha promovendo a vacinação dos pescadores contra a gripe. Voltada aqueles com mais de 50 anos, a operação foi concluída em meados de maio no Sul da Ilha, contemplando em torno de 200 pescadores. Além do Campeche, a operação beneficiou também pescadores das praias do Pântano do Sul, Armação, no Sul da Ilha. A Prefeitura informa que além da vacinação, a ação contemplou também a distribuição de máscaras para os pescadores cadastrados.
SURFE – Para estimular o convívio pacífico entre pescadores e surfistas, que vem predominando ao longo das últimas safras, a Prefeitura da capital promoveu uma ação de conscientização em meados de maio na Praia da Campeche. Sob coordenação da Superintendência Municipal da Pesca, em parceria com o Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal e polícias militar e ambiental, soldados estiveram na beira da praia orientando os surfistas para o respeito à pesca, que tem prioridade neste período, inclusive estabelecida por legislação específica.
O presidente da Associação dos Pescadores Artesanais do Campeche, Pedro Inácio, disse que eventuais problemas na relação com os surfistas normalmente decorrem de alguns poucos atletas isolados, que desconhecem a tradição local da pesca artesanal.  “Temos o apoio inclusive das associações de surfistas, o problema é que alguns surfistas ainda desconhecem essas regras”, comentou. “
Durante o período da safra, vigora já há vários anos um esquema de bandeiras, para determinar se o mar está propício à pesca ou liberado para o surfe. “Quando o mar está muito mexido, que não dá para sair barco, é do surfe”, explicou. Já quando está calmo, propício à detecção de cardumes, a vez é da pesca. A bandeira vermelha determina prioridade à pesca, enquanto a verde contempla o surfe.
Em função do aumento exponencial no número de surfistas, vigora também recentemente um acordo de liberação do mar para o surfe todos os dias a partir das 17 horas, independente do esquema de bandeiras.  A Guarda Municipal informou que no caso de desrespeito a distâncias e prioridade à pesca, durante o período da safra, a legislação permite até mesmo a apreensão de pranchas de surfe e outros artefatos esportivos.
(Foto: PMF/Divulgação/JC)