Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Em meio aos desdobramentos da pandemia, que impõe necessidades cada vez maiores de limpeza e higienização para todos, o Sul da Ilha atravessa uma das maiores crises hídricas de sua história. Embora ainda não seja cogitado abertamente, para não macular o ‘progresso’, o racionamento de água é uma hipótese que já começa a pairar sobre o Sul da Ilha no médio e mesmo curto prazo. O colapso do abastecimento, a se manter as atuais variáveis que envolvem a questão, também é uma situação que não pode ser descartada.
Responsável integralmente pelo abastecimento de água das costas Sul e Leste da Ilha até poucos anos atrás, o manancial da Lagoa do Peri já é insuficiente para atender os mais de 70 mil consumidores dos 13 bairros alcançados pelo serviço, mesmo em condições normais, que abrangem mais de 20 mil ligações. No Sul da Ilha, apenas a região do Pântano do Sul tem uso irrisório da água fornecida pela Casan, porque mantém uma modesta rede local ainda em atividade, embora possua canalização de rede da concessionária.
Atualmente, no entanto, o principal manancial do Sul da Ilha se encontra em níveis críticos, o que levou até à recente e inédita intervenção da 22ª Promotoria de Justiça da capital, para apurar os procedimentos que estão sendo adotados para preservar a Lagoa do Peri. O próprio governo estadual, por outro lado, montou recentemente também uma sala de situação, envolvendo Casan, Epagri (vinculada à agricultura), entre outros partícipes, para monitorar e propor soluções para mitigar o problema que atinge o Sul da Ilha e todo o estado.
O abastecimento de água do Sul e Leste da Ilha é integralizado atualmente com pelo menos 40% de água oriunda do aquífero do Campeche, extraído de nove poços artesianos que operam na Estação de Tratamento do Campeche, instalada no final da Rua do Gramal. Essa reserva, que normalmente era acionada apenas em períodos de pico de consumo, geralmente durante a temporada de verão, agora permanece ativa há quase dois anos em ritmo sistemático.
O diretor de Operação e Expansão da Casan, Fábio Krieger, atribui a situação às estiagens recorrentes que vêm atingindo a capital catarinense e o próprio estado há mais de um ano. “Tivemos uma seca que se estendeu de junho a setembro, no ano passado, em que choveu apenas 25% do normal, e agora estamos enfrentando uma nova seca desde o final de fevereiro”, comenta. Conforme o engenheiro, para recuperar a normalidade absoluta do sistema seriam necessários, a grosso modo, chuvas contínuas de pelo menos duas semanas, perspectiva que não encontra guarida, pelos menos nas previsões meteorológicas oficiais.
Apesar do quadro dramático, Krieger descarta o risco de colapso no abastecimento no Sul da Ilha, porque a Casan ainda teria cartas na manga para driblar o declínio da capacidade do sistema regional. Uma das medidas que estaria próxima de ser concretizada é a interligação do sistema regional com a rede da Grande Florianópolis, permitindo à região receber água oriunda dos mananciais dos rios Pilões e Cubatão, em Santa Amaro da Imperatriz, que abastecem a região metropolitana.
“Com o término do novo acesso ao Sul da Ilha, vamos fazer a interligação em Carianos via rede do Centro”, explicou. O bairro de Carianos, bem como o novo aeroporto, que sozinho consome cerca de 500 mil litros de água diários, são abastecidos pela rede do centro, conforme Krieger. O dirigente não precisou, contudo, o prazo para conclusão dessa interligação. Outra iniciativa em curso, prometida há mais de dois anos, é a integração da Costa Leste à rede do Norte da Ilha, desafogando um pouco mais o sistema do Sul da Ilha.
(Foto: Divulgação/JC)