Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Com redução de mais de meio metro no nível do manancial desde meados de abril e 40% de seus níveis normais para fins de captação, a Lagoa do Peri vem sendo monitorada diariamente pela Casan. Com capacidade de tratar até 200 litros de água por segundo, a Estação de Tratamento de Àgua (ETA) vem operando bem abaixo de sua capacidade, por questões de segurança. Por causa disso, as operações de limpeza periódicas dos equipamentos da estação, que normalmente acontecem a cada seis meses, têm sido cada vez mais frequentes.
A mais recente intervenção aconteceu em 20/05 e deixou boa parte da região sem água ao longo de todo dia, surpreendendo e preocupando muitos moradores, embora a operação seja sempre precedida de aviso público divulgado pela Casan pelas redes sociais e imprensa. A operação técnica executada, conforme divulgado pela companhia, foi a ‘manutenção preventiva no poço de sucção de água bruta; necessária em função de acúmulo de areia no poço provocado pelo baixo nível do manancial.”
Embora com menor pressão, muitos moradores da região acusaram a manutenção do serviço ao longo do período, suscitando dúvidas acerca da origem da água fornecida, gerando até especulações de que o sistema poderia estar com alta dependência dos poços do Campeche. O diretor de Operação e Expansão da Casan, Fábio Krieger, explica que a água fornecida, neste período, seria oriunda do sistema de reservatórios que a empresa mantém na região, que normalmente é abastecido antes do desligamento de rede.
O maior deles situado no Morro das Pedras, que comporta até cinco milhões de litros. Outros três, de menor capacidade, ficam no Ribeirão da Ilha, Canto da Lagoa e Praia Mole. O dirigente reitera que a água extraída dos poços artesianos, apesar do agravamento da crise hídrica, segue respondendo por não mais do que 40% do abastecimento da Costa Leste-Sul. Apesar do quadro dramático, a Casan reforça que a queda drástica dos níveis da lagoa é cíclica, e normalmente recomposta também periodicamente.
Além da sua importância crucial para o abastecimento de água de toda a Costa Leste/Sul da Ilha, pelo menos até a implantação das prometidas soluções para desafogar o sistema, a Lagoa do Peri é também balneário muito frequentados pelos turistas e considerada uma das principais joias da Ilha de Santa Catarina. No verão passado, conquistou pelo quinto ano consecutivo o selo Bandeira Azul de sustentabilidade, concedido por uma organização não-governamental internacional, que contempla praias de todo o mundo. A lagoa foi a única praia com tal honraria na capital catarinense.
O ´título’ é resultado da avaliação de um conjunto de práticas sustentáveis, no âmbito ambiental, de segurança e infraestrutura, somando 34 critérios. A conquista é sempre muito comemorada pelos sucessivos gestores públicos, que fazem questão de comparecer pessoalmente no local para hastear a ‘bandeira azul’. Antigo parque, atualmente enquadrada como Monumento Natural, a Lagoa do Peri contempla uma área total de 42 quilômetros quadrados, sob proteção desde meados dos anos 70.
Há pouco menos de três anos, chegou a tramitar na Câmara de Vereadores da capital, por proposição de vereador Vanderlei Farias (PDT), proposta de taxação da Casan pela exploração do manancial da Lagoa do Peri. À época, a companhia faturaria mais de R$ 3milhões mensais, segundo estimativas do vereador, com a distribuição da água oriunda da lagoa. A proposta previa destinação dos recursos para a fiscalização e manutenção do parque, bem como dos rios que cortam a área, Sangradouro e Quincas, mas nunca chegou a prosperar e caiu no esquecimento. (Foto: