Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Construída há pouco mais de cinco anos, inicialmente para operar como uma reserva técnica para o abastecimento de água das costas Sul e Leste da Ilha nos períodos de alto consumo e redução de vazão do manancial da Lagoa do Peri, a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Campeche atualmente já é praticamente peça-chave na operação do sistema. Sem ela, diante da atual crise hídrica, provavelmente o sistema de abastecimento regional já teria colapsado.
Em sua primeira fase, a unidade era acionada não mais do que duas ou três vezes por ano, especialmente nos períodos de pico da temporada, entre o pós-Natal e os primeiros 10 dias do ano. Atualmente, no entanto, a estação com capacidade de tratar até 90 litros por segundo, por meio de 10 poços artesianos, opera sistematicamente e já responde por pelo menos 40% da água fornecida para a região.
Embora a água extraída dos poços seja considerada de ótima qualidade, não implicando em alto custo de tratamento, a sua captação possui limitações. Captada do aquífero do Campeche, considerado um dos mais importantes de Santa Catarina, com reservatório estimados em bilhões de litros, cada poço precisa obedecer períodos de interrupção regulares para permitir a sua recarga, por meio das chuvas, e evitar a secagem.
Além da escassez de chuvas, a impermeabilização urbana, decorrente do avanço construtivo, é um dos principais entraves à recomposição dos aquíferos. Outro risco não menos importante da exploração sistemática é a salinização do reservatório subterrâneo, perigo que ocorre quando este atinge níveis muito baixos, o que poderia desencadear até mesmo a falência do valioso patrimônio natural.
O aquífero do Campeche abrange o subsolo do Campeche, Rio Tavares e toda a extensão das dunas da Lagoa da Conceição. Alguns alertam ainda que o uso intensivo também implicaria no risco de ingresso de água contaminada por residual de esgoto na captação, visto que a região não possui rede de esgoto ativa, e até mesmo um suposto enfraquecimento do solo pela redução do ‘colchão’ de água subterrânea.
O diretor de Operação e Expansão da Casan, Fábio Krieger, também rechaça esses riscos. “Isso só seria plausível se houvesse uma bateria absurda de 200 poços ativos”, garante. A operação dos poços locais, assegura ele, obedece rígidos cuidados, com acionamento escalonado e interrupções regulares para recarga . No Norte da Ilha, informa ele, a companhia também possui outra estação, para extração de águas do aquífero dos Ingleses, composta por mais de 10 poços, no Rio Vermelho.
O Campeche é conhecido também por possuir um lençol freático muito aflorado, ou seja, em que a água começa muito próximo da superfície. Essa afloração, contudo, em função das longas e recorrentes estiagens, também está cada vez menos acentuada na região. Um retrato emblemático dessa situação é a pequena Lagoa da Chica (foto), que há poucos anos chegou a estar com seu espelho d’água aflorado e quase recomposto, após um amplo trabalho de limpeza, e hoje está novamente quase totalmente seca.
(Foto: João Bilck/Subprefeitura Sul/Divulgação/JC)