Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Se restava alguma dúvida acerca da rejeição popular ao projeto de lançamento de efluente de esgoto em mar aberto, no Campeche, por meio de um emissário submarino, ela foi encerrada na primeira quinzena de setembro, durante a realização da primeira audiência pública sobre o polêmico projeto, que reuniu aproximadamente 400 pessoas numa escola do bairro. Apesar das explicações técnicas dos engenheiros da Casan em defesa do emissário como solução para destinação do efluente tratado na região, quando a novelesca rede de saneamento em construção na região virar finalmente realidade, as manifestações populares foram praticamente unânimes de rejeição ao projeto.
“Senti que existe realmente um consenso contra o emissário”, declarou Maria Isabel Gonçalves Koerner, presidente da Associação dos Moradores do Novo Campeche (Amonc), uma das entidades mais aguerridas na luta contra o projeto. O próprio EIA-Rima do projeto seria controverso, conforme ela, deixando sérias dúvidas acerca do volume e o nível de tratamento do insumo a ser lançado em mar aberto. A avalanche de questionamentos à Casan foram tão grandes que o evento acabou suspenso, com mais de 30 perguntas sem respostas. O Instituto de Meio Ambiente (IMA), promotor da audiência, informou que vai marcar nova audiência para continuidade das discussões.
Apesar da rejeição consensual, o presidente da Associação de Moradores do Campeche (Amocam), Alencar Vigano, é cético quanto às perspectivas de barrar o polêmico projeto. “Esse processo está desenhado para chancelar o emissário”, afirmou. Vigano acredita até que a discussão do equipamento visa criar uma cortina de fumaça para deixar em segundo plano o novo atraso na entrada em operação na rede de esgoto do Campeche, que deveria acontecer em janeiro. “Isso tudo é para esconder a incapacidade técnica da Casan em operar o sistema”, disparou.
Um dos mais inconformados com o resultado da audiência foi o gerente de Construção da Casan, Fábio Krieger. “Apanhamos mais que cachorro sarnento’, lamentou. O dirigente voltou a negar que o emissário vá contemplar outros bairros além do Sul da Ilha e disse que não existe alternativa para despejo do efluente. Sobre o reuso de água, alega que teria custo astronômico, implicando na implantação de nova rede paralela à de água potável. Sobre a rede de esgoto do Campeche, disse que a Casan ainda aguarda a conclusão de um estudo sobre a melhor opção de despejo provisório do efluente, que só deve ficar pronto em meados de 2020. (Foto: Divulgação/JC)