Angelo Poletto Mendes/Redação JC
A liberação do novo acesso viário e a inauguração de um moderno aeroporto de quase R$ 600 milhões devem gerar uma nova escalada de ‘desenvolvimento’ no Sul da Ilha, que pode até deixar na poeira o geométrico crescimento imobiliário e comercial registrado nos últimos três anos. “Acredito que teremos um crescimento sem precedentes nos próximos dois anos no Sul da Ilha”, assinala João Bilck, conhecido ativista comunitário que desde o início deste ano responde também pela Subprefeitura do Sul da Ilha.
A percepção é unânime entre pequenos e médios empresários, prestadores de serviços e lideranças comunitárias regionais. “Chegou a vez do Sul da Ilha, agora até mesmo bairros que eram subvalorizados na região, como a Tapera, vão atrair novos investimentos”, acredita a empresária Milene Antunes, do ramo de material de construção. Estimativas do segmento imobiliário são de que a valorização dos imóveis pode superar 50% em bairros como Tapera e Carianos.
O novo acesso deve favorecer também o turismo e a gastronomia regionais, pelo encurtamento da distância para o Ribeirão da Ilha e Pântano do Sul, tradicionais polos gastronômicos, além do próprio Campeche e entorno. Nos bastidores, se comenta que grandes redes hoteleiras nacionais já estariam para desembarcar na região, para se instalar no trajeto do novo e valorizado acesso ao Sul da Ilha.
Diversas redes do varejo estadual já se chegaram à região, outras estão em vias de desembarcar e algumas começam a prospectar áreas, enquanto novos empreendimentos imobiliários estão ‘saindo da gaveta’ quase todos os dias no Campeche e Sul da Ilha. “Para nós, isso tudo é muito positivo, é importante termos produtos de qualidade para trabalhar”, comemora o corretor de imóveis William Casagrande, diretor de conhecida imobiliária.
DESAFIOS – À parte o festejado incremento econômico, a nova perspectiva também impõe sérios riscos à qualidade de vida e à própria sustentabilidade regionais que, em última análise, são os motivos de atração de novos empreendimentos para a região. Seria mais ou menos como ‘matar a galinha dos ovos de ouro’. “O crescimento é inevitável, faz parte do processo natural, o problema é o adensamento resultando desse processo, sem as devidas contrapartidas estruturais”, alerta o presidente da Associação de Moradores do Campeche (Amocam), Alencar Vigano. “O risco é trilharmos um caminho sem volta”, assinala.
Além das limitações na capacidade de abastecimento de água e energia elétrica e da ausência até hoje de uma rede mínima de saneamento, a mobilidade também é apontada como um desafio que não esgota com o novo acesso. “Se a política de mobilidade seguir voltada a privilegiar o transporte individual, o carro, o seu tempo de vida útil como solução de tráfego será muito curto”, afirma.
“Esse novo acesso vai melhorar um pouco, não resta dúvidas, mas certamente não será a redenção do Sul da Ilha”, assinala o engenheiro Sérgio Aspar, presidente do Conselho de Desenvolvimento do Sul da Ilha (COdesi), mais antiga entidade do gênero na capital. Gargalos ao longo do próprio trecho do novo acesso e o afluxo de novos moradores e da população transitória (trabalhadores e consumidores) põem em xeque o tempo de vida útil funcional do novo acesso, na avaliação do engenheiro.
O próximo passo para melhorar a mobilidade regional, à parte alguma espetacular solução de transporte coletivo, seria a duplicação das principais vias de acesso à região, as rodovias SC-405 e 406, e a própria Rodovia da Tapera, onde desemboca o novo acesso para chegar ao Sul da Ilha. Outra corrente defende a continuidade da luta para convencimento da Base Aérea de Florianópolis a liberar o tráfego regular de veículos pelas suas instalações.