Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Após a recente nova suspensão de audiência pública acerca do polêmico projeto de lançamento de efluente de esgoto em mar aberto no Campeche por meio de um emissário submarino, dessa vez fruto de uma articulação mais encorpada de diversas entidades comunitárias e ambientalistas regionais, vem recrudescendo a resistência à instalação do equipamento no Sul da Ilha. O evento, promovido pelo Instituto de Meio Ambiente estadual (IMA), estava previsto para acontecer no dia 18 de julho.
Agora, além da quase onipresente Associação dos Moradores do Campeche (Amocam) e de outras tradicionais e combativas entidades comunitárias regionais, o movimento ganhou o reforço da Associação dos Moradores do Novo Campeche (Amonc), uma articulada entidade que representa cerca de mil moradores do loteamento de classe média Novo Campeche, um dos mais badalados do Sul da Ilha.
Até pouco tempo quase muda em relação ao projeto, a Amonc subitamente entrou de corpo e alma na campanha contra o equipamento. “Despertamos para a questão recentemente após o anúncio da primeira audiência”, admitiu a presidente da entidade, a arquiteta Maria Isabel Gonçalves Koerner, moradora do local há 25 anos. Segundo ela, muitos dos moradores locais sequer sabiam da existência desse projeto e os poucos que o conheciam duvidavam de sua efetiva implantação.
Desde então, a entidade tem se voltado a alertar a comunidade do entorno acerca dos ‘riscos’ do projeto para a balneabilidade do Campeche, por meio de folhetos, além de encabeçar abaixo-assinado que já teria 15 mil assinaturas. Além da questão ambiental, a entidade teme também impactos diretos no Novo Campeche, já que o sistema de emissário terrestre que fará a ligação ao mar está projetado para passar muito rente ao loteamento. “Estamos realmente muito assustados”, admitiu.
O presidente da Associação dos Moradores do Campeche (Amocam), Alencar Vigano, disse que o foco do movimento a partir de agora é atrelar a discussão do projeto do emissário ao plano municipal de saneamento. “Queremos sair da questão específica, do embate comunidade-Casan, e saber exatamente o que se pretende com esse projeto; trazer também a Prefeitura, que é o agente contratante do serviço, para as discussões”, comentou.
O dirigente acredita que o emissário mira resolver o despejo do efluente de quase toda a capital e não apenas do Sul da Ilha, podendo causar impactos imprevisíveis sobre a balneabilidade de toda Costa Leste-Sul da Ilha. “Essa obra custa quase R$200 milhões e leva mais de 20 anos para ser implantada; é óbvio que não haverá outro emissário”, alega. Vigano defende a reabertura das discussões acerca de alternativas para resolver o despejo do efluente, entre elas o reuso da água e até pequenas estações de saneamento. “A própria Casan detém tecnologia para construção de estações compactas”, alega.