Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O projeto do emissário submarino do Campeche antagoniza Casan e moradores da região, representados por suas principais lideranças comunitárias, desde que veio tona, em abril de 2009. O primeiro movimento contrário a sua implantação veio de pronto, através da campanha ‘Saneamento, Sim. Emissário, Não’, liderada então pela associação de moradores do bairro, que declarava apoio à recém iniciada rede de esgoto local, mas já postulava soluções ‘menos agressivas’ para o destino final do efluente.
O movimento ganhou corpo e teve seu ponto alto numa manifestação ao final daquele ano, com o desfile de um ‘emissário’ alegórico conduzido por moradores até à beira da praia. Outros esquetes similares também aconteceram em outras praias da capital. A expectativa era sensibilizar a Casan para revisão do projeto, numa época ainda embrionária da rede, que esbarrava em fortes entraves ambientais para o início da estação de esgoto do Rio Tavares.
Comandada na época pelo ex-presidente Walmor de Luca, um dos mais longevos na história da companhia, a Casan no entanto não só reafirmou a opção pelo equipamento como anunciou a contratação da Univali (posteriormente substituída) para os primeiros estudos técnicos-ambientais do projeto. Na época, o projeto de emissários preconizado pela companhia também contemplava os Ingleses, esse abortado após a realização de uma única audiência pública.
De Luca ainda assinou ‘artigo’, publicado por este jornal, em defesa do projeto, sustentando primeiramente ‘a grande capacidade de autodepuração das águas marinhas que promovem a diluição, dispersão e o decaimento de cargas poluentes a elas lançadas’. Depois, o lançamento de resíduos líquidos, supostamente de baixo impacto, em profundidades superiores a 17 metros e, por fim, o fato da existência de emissários há muitos anos em cidades como Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador e Vitória, entre outras.
As argumentações foram rebatidas à época, em artigo também publicado pelo jornal, pelo ativista ambiental Gert Schinke, vinculado ao Mosal. Além de questionar a própria confiabilidade da empresa na gestão do processo, e ironizar a crença na capacidade do oceano como depurador residual, o que pressupunha dúvidas acerca do efluente que efetivamente viria a ser lançado, o dirigente já defendia a destinação mais nobre do efluente: ‘Se não causarão poluição, por que lança-los no mar?’, questionava. Schinke argumentava ainda que o sistema de emissários já estaria ultrapassado e na contramão da sustentabilidade.
A implantação do emissário chegou a criar uma rixa silenciosa entre segmentos comunitários contrários ao lançamento de efluente no mar e os maricultores, que contestavam o seu lançamento na baía, por meio do Rio Tavares, mesmo que provisoriamente. Posteriormente, os dois segmentos chegaram a unificar posição informalmente, ‘contrária’ ao emissário. O assunto, contudo, praticamente dormitou por vários anos e agora novamente volta a ‘assombrar’ o Sul da Ilha. (Foto: William Casagrande/Divulgação/Arquivo JC – Verão 2009)