7 de junho de 2019

Campeche recomeça a mobilização contra temido emissário de esgoto

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Pouco mais de 10 anos após sua concepção e anúncio como solução definitiva para o despejo do efluente resultante da então incipiente rede de saneamento do Campeche – até hoje não concluída – o polêmico projeto de instalação de um emissário submarino para lançamento de efluente de esgoto em mar aberto, no Campeche, volta a ser assunto dominante na região. Isso porque o Instituto de Meio Ambiente estadual (IMA), antiga Fatma, anunciou finalmente, após diversos adiamentos, a realização de audiência pública sobre o equipamento.
O prazo curtíssimo entre o anúncio e a data de realização do evento, somado ao espectro sombrio que costuma rondar intervenções de grande porte em temas ambientais tão delicados, no entanto, levou rapidamente à mobilização das lideranças comunitárias do Campeche e região e à suspensão do evento. Por solicitação do Conselho Municipal de Saneamento – entidade integrada por órgãos de governo e sociedade civil – a audiência foi cancelada até a definição de nova data.
“Entendemos que a discussão de tema tão controverso precisa antes de uma preparação da sociedade; fomos pegos de surpresa e sequer tínhamos subsídios para contestar”, comentou o presidente da Associação dos Moradores do Campeche (Amocam), Alencar Vigano, um das lideranças locais mais refratárias ao projeto. O dirigente defende inclusive prazo mais elástico para a definição de nova data para a audiência, visando antes levar o tema à discussão nas comunidades da região.
“Precisamos ter um estudo mais detalhado do projeto e dos mapas que o amparam, porque existe uma visível desconexão com o discurso, que dá muita margem a dúvidas”, considera o dirigente. “Precisamos de melhor conhecimento técnico até para termos capacidade de contestação”,  ponderou. Após a discussão interna, segundo ele, a intenção é convidar os técnicos da Casan – gestora da rede de esgoto em implantação na região – para explicar o projeto.
“Trata-se um projeto que não impacta apenas sobre o Campeche, mas sobre toda Costa Sul e a própria Ilha de Santa Catarina”, corrobora  Ataíde Silva, do supracomunitário Mosal (Movimento de Saneamento Alternativo), que combate o emissário desde seu surgimento. Ex-presidente da Amocam, Silva defende também que audiência seja deliberativa e não apenas consultiva. “Queremos saber por que não se busca alternativa para a utilização do efluente, que dizem terá alto grau de depuração, como o seu próprio reaproveitamento”, argumentou.  “Como é possível, em tempos de tanta escassez, se decidir simplesmente por jogar no mar uma água quase potável”, questiona.
Mais ponderado, o presidente do Conselho de Desenvolvimento do Sul da Ilha (Codesi), Sérgio Aspar, acha que o projeto da Casan já não é mais um bicho-de-sete-cabeças, mas mesmo assim ainda carece de explicações. “Quando surgiu, o emissário assustava; com o tempo, foi melhor assimilado, mas ainda pairam muitas dúvidas”, comentou. Numa sondagem informal entre os moradores da região, poucos defendem o projeto do emissário e muitos ainda o desconhecem inteiramente. (Foto: William Casagrande/Divulgação/Arquivo JC – Verão 2009)