Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O polêmico projeto do emissário submarino de esgoto – tubulação para lançamento de efluente de esgoto em mar aberto – concebido para complementar a rede de saneamento em implantação no Campeche há mais de 10 anos, acaba de ganhar novo impulso. Resultado de quase quatro anos de estudos de campo – ventos, correntes marítimas, ensolação e outras variáveis ambientais marítimas – desenvolvidos por uma empresa contratada pela Casan, o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do equipamento acaba de ser liberado pelo Instituto de Meio-Ambiente (IMA), antiga Fatma, para discussão pública com a comunidade, por meio de audiência pública que será convocada e conduzida pelo instituto.
Durante o evento, que deve acontecer ainda neste ano ou primeiro trimestre de 2019, o documento será destrinchado na íntegra aos moradores, que poderão fazer questionamentos e interpelar os técnicos da Casan. “Estamos ajustando algumas detalhes com a Prefeitura para marcar a audiência”, comentou o engenheiro Alexandre Trevisan, da Gerência de Meio-Ambiente da empresa. A audiência precisa ser convocada oficialmente, por meio de comunicado público, pelo menos 15 dias antes de sua realização.
Trevisan informa, contudo, que cópias do documento já estariam disponíveis para consulta nas unidades da Casan, na Costa Sul-Leste, no Ribeirão da Ilha, além de Centro e Estreito. “Trabalhamos com a expectativa de obter a LAP (Licença Ambiental Prévia) até metade do ano que vem”, informou. O documento é a etapa seguinte à audiência pública, desde que dirimidas eventuais contestações técnicas ou legais, e abre caminho para a companhia buscar financiamento para viabilização do equipamento.
Apesar da conhecida rejeição popular ao projeto, o engenheiro acredita que o relatório suscitará poucas restrições, porque possui justificativas técnicas detalhadas acerca da estrutura e ponto de instalação do equipamento submarino. Questionado sobre alternativas para destinação dos efluentes – infiltração, reuso ou despejo em cursos hídricos – ele garante que são soluções paliativas. “No longo prazo, o emissário é inevitável, para preservar os rios e as baías”, comentou.
CUSTOS – Vencida s discussão e obtida a LAP, inicia outra etapa espinhosa do projeto, que será a busca por fontes de financiamento para viabilização do equipamento, cujo custo é estimado em cerca de 50 milhões de dólares. Além de uma tubulação submarina com diâmetro 1,2 metro e capacidade de despejo de mil litros por segundo enterrado por cinco quilômetros mar a dentro, o projeto também contempla rede terrestre ligando à estação de saneamento em construção no Rio Tavares. Na melhor das hipóteses, o emissário não será viabilizado antes do ainda distante 2024.
O gerente de Construção da Casan, Fábio Krieger, informa, por outro lado, que as obras de construção da estação de saneamento do Rio Tavares (foto), crucial para viabilizar a entrada em operação da rede de esgoto do Campeche prevista para operar a partir da temporada 2019/2020, registrou novos avanços. O equipamento projetado para tratamento de esgoto em nível terciário – geração de efluente com mínimo de resíduo químico e orgânico – entrou na fase de fundações da estrutura.
Obra mais cara do sistema de esgoto em implantação no bairro, só a estação está orçada em R$ 34 milhões. Terá capacidade para processar o esgoto de uma população de até 90 mil habitantes. O efluente gerado na unidade deve ser lançado provisoriamente no Rio Tavares, até a viabilização do futuro emissário. Complementa o sistema uma rede de 58 quilômetros de tubulações, das quais 80% já estão instaladas.
“Depois do Carnaval, devemos iniciar os últimos trechos que faltam, na Gramal e parte da Pequeno Príncipe”, comentou. A rede é composta ainda por oito estações elevatórias, responsáveis por bombeamento do esgoto para a estação, todas com as obras civis praticamente concluídas. A rede do Campeche vai beneficiar inicialmente uma população de 25 mil habitantes. (Foto: Fábio Krieger/Divulgação/JC)
NOTA DA REDAÇÂO; No dia 07/11, o redator deste jornal recebeu ligação de Andrea Lambert, analista ambiental e chefe da Reserva Extrativista do Pirajubaé, informando que o ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade), gestor da reserva, não autorizou o despejo de efluente de esgoto no Rio Tavares, mesmo que em caráter provisório. Segundo ela, o destino do efluente provisório indicado à Casan para operação inicial da rede do Campeche, quando ficar pronta, serão valas de amortecimento no Saco dos Limões.