Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O desastre provocado pela enxurrada evidenciou uma situação dramática vivida pelos moradores do Sul da Ilha, região vista como nova ‘menina dos olhos’ da construção civil, mesmo que a contragosto de boa parte da população local. Por quase dois dias, a região que já abriga hoje mais de 60 mil habitantes ficou praticamente isolada, sem acessos para o centro e demais bairros por conta do bloqueio de trecho da SC-405, nas imediações do Trevo do Rio Tavares, exceto pelo longo e perigoso percurso pelo morro da Lagoa, sob constante risco de deslizamentos de terra.
A solução provisória adotada para resguardar o direito de ir e vir da população regional, atendendo solicitação da Prefeitura e governo estadual, foi a liberação do acesso pelos portões da Base Aérea, ao lado do aeroporto. Liberado primeira vez por período mais amplo por quase três dias, o trecho que encurta o acesso à Tapera e permite uma alternativa para desafogar o tráfego diário ao Sul, suscitou polêmica sobre o seu histórico acesso restrito.
Sensível às dificuldades da população regional, especialmente diante do arrastado processo de ampliação do acesso ao futuro novo aeroporto da capital, o secretário estadual de Planejamento e ex-candidato à Prefeitura, Murilo Flores, encaminhou ofício à Base Aérea reivindicando a liberação regular do tráfego pela área militar, para um contingente maior de moradores, pelo menos até a conclusão do acesso ampliado ao aeroporto.
O secretário defende a realização de um estudo para apontar a capacidade de fluxo que teria o trecho sob guarda da unidade militar, com vistas a desafogar o trânsito diário para o Sul da Ilha. Conforme ele, o estado poderia inclusive auxiliar na viabilização na operação do tráfego pelo local. A reinvindicação ganhou amplitude na imprensa diária local, ainda mais diante da propalada redução da estrutura operacional da unidade militar.
“A emergência que resultou na inédita abertura total da Base Aérea leva à reflexão sobre a regra anacrônica que limita a circulação de moradores na área da unidade militar. Em dias normais só pode passar quem é credenciado e mora no outro lado, num raio de até 100 metros. Não é hora de rever isso”, questionou o jornalista Fábio Gadotti, colunista do jornal Notícias do Dia.
O ex-colunista do Diário Catarinense, Rafael Martini, também pontuou pela flexibilização do acesso pela área militar em nota de jornal, embora tenha publicado contraponto da corporação no dia seguinte justificando a regra restritiva, informando que ainda manteria 800 militares em atividades no local.
O comando da Base Aérea informa que atualmente já existem 2.350 pessoas cadastradas para transitar pelo trecho, o que já superaria a capacidade da própria estrada, com pouco mais de quatro quilômetros de extensão, mão dupla e asfalto antigo. A corporação alega também motivos estratégicos e aeronáuticos para resguardo do trecho, que seria destinada também ao tráfego de veículos de emergência em caso de acidente aéreo. (Foto: Divulgação/JC)