Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Em meio a sobressaltos, dada a instabilidade do tempo e o temor de novas chuvas, o Sul da Ilha vai se reerguendo após novo desastre climático. Pouco mais de um ano após o ciclone extratropical que devastou a região, em dezembro de 2016, uma enxurrada de proporções históricas ocorrida entre os dias nove e 11 de janeiro deste ano deixou novo rastro de estragos na infraestrutura local e enormes prejuízos para centenas de famílias e a própria economia regional.
Comparada à enchente do Natal de 1995, considerada até hoje como a maior da história da capital, o novo evento é apontado por alguns como ainda mais devastador, dada a velocidade dos alagamentos, que propiciou poucas chances de salvamento de bens e objetos para a maioria dos atingidos, além da renitência do fenômeno. Duas outras enxurradas na sequencia, de proporções menores, castigaram a região entre os 16 e 22, e um vendaval no dia 23 também assustou a população.
O volume de precipitação pluviométrica em janeiro (a quantidade de água que caiu) na capital atingiu quase 650 milímetros, mais de três vezes o volume histórico do mês, que é de 190 milímetros, de acordo com meteorologistas. A estimativa é de que o fenômeno teria afetado 35 mil pessoas, em todo o município, deixando 18 feridos e dois mortos, além de centenas de desalojados e desabrigados.
Os prejuízos provocados pela enxurrada na capital, conforme levantamento da Prefeitura, superaram R$ 54 milhões – apenas em bens públicos, ruas, pontes, prédios e equipamentos – não contabilizando perdas individuais, familiares e de pequenos negócios. Mais de 150 ruas ficaram danificadas em todo o município, sete pontes foram destruídas e ainda houve registro de dezenas de pequenos deslizamentos de terra em toda a cidade, boa parte deles no Sul da Ilha.
O problema só não foi mais grave porque a Prefeitura mostrou agilidade no atendimento às emergências. “Desde o início das chuvas ninguém mais parou por aqui”, afirmou o intendente do Campeche, Edi Gonçalves. A prioridade, garante ele, segue sendo o atendimento às casas, terrenos e ruas ainda com pontos alagados, com bombeamento de águas, limpeza e desobstrução de bueiros, mas estão sendo executadas também melhoria nos próprios sistemas de drenagem da região.
“O problema é que quando se resolve uma coisa, vem outra chuvarada; as pessoas perderam a paciência”, lamentou. “Ninguém tem culpa, é um fenômeno da natureza”, ponderou Edi. Embora seja a causa primária do desastre, o excesso de chuvas não é apontado por moradores como único culpado pelo problema.
A falta de conscientização no despejo de resíduos domésticos não fica de fora desta conta, mas muitos vêm o poder público como ator importante na tragédia. “Há uma liberalização geral de construções, loteamentos e prédios sem amparo de infra-estrutura”, sentencia o presidente da Associação de Moradores do Campeche (Amocam), Alencar Vigano.
(Foto: Divulgação/JC)