Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O crescimento desenfreado, a novela da rede de esgoto que nunca termina e a irresponsabilidade de parte dos moradores custou caro para o Campeche nesta temporada, com o surgimento de algumas ‘línguas negras’ desembocando na praia, uma delas inclusive na área central do balneário. Revoltados com a situação, moradores se mobilizaram e promoveram um mutirão de bloqueio de córregos e valas com sacos de areia, em meados de janeiro, para conter a poluição que contamina alguns pontos da praia.
Foram montadas barreiras próximo ao Rio do Noca (Riozinho), Rio Rafael e na vala próxima ao rancho de pesca do Seu Getúlio, que vertia uma espuma cinzenta assustando veranistas. “A mobilização é positiva, mas não resolve; a solução é lacrar os esgotos individualmente e denunciar todos os que forem autuados por crime ambiental, especialmente os reincidentes”, opina o vice-presidente da associação de moradores do bairro (Amocam), Ataíde Silva.
Silva também defende a fiscalização sistemática sobre condomínios e prédios multifamiliares, e alerta ainda para a necessidade de uma maior vigilância sobre a operação de caminhões limpa-fossa na região. “Muitos vêm aqui à noite e madrugada para desovar esgotos nas bocas de lobo”, denuncia.
Uma força-tarefa da Prefeitura e da Fatma (Fundação estadual do Meio Ambiente) esteve vistoriando o local após o episódio e atribuiu o problema às ligações irregulares de esgoto doméstico à rede pluvial, solução comumente usada para baratear custos com sistemas sanitários. A Vigilância Sanitária informou que está buscando identificar pontos de lançamento irregular de esgoto na rede pluvial, para promover o lacre das ligações e aplicar sanções legais aos responsáveis.
A situação só não é mais grave porque desde o final de dezembro a companhia de saneamento estadual (Casan) vem promovendo operações de detecção de ligações clandestinas a sua rede instalada no Campeche, ainda inativa, que já possui cerca de 40 quilômetros de tubulações subterrâneas. Conforme a companhia, quase 30 ligações foram lacradas no Campeche e recolhidos mais de 120 mil litros de esgoto misturado à rede pluvial.
Além de comprometer as estruturas para futura operação, o despejo irregular causa mau-cheiro e pode extravasar nas vias públicas. “O trabalho é feito abrindo as caixas de inspeção e verificando a origem do esgoto; no momento em que a situação é identificada, notificamos o infrator e lacramos a saída clandestina”, explica o engenheiro sanitarista Francisco Pimentela, da Casan. Suspeitas de ligações irregulares à rede da companhia podem ser denunciadas pelo fone 0800-643.0195.
ESTAÇÃO – O drama do esgoto na praia pode estar com os dias contados no Campeche e região. A companhia estadual de saneamento (Casan) anuncia que, após quase três anos paralisadas, foram finalmente retomadas as obras de construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), do Rio Tavares, equipamento crucial para operação do sistema de esgoto implandado Campeche. “Nossa expectativa é de que a obra esteja concluída até o final de 2018”, assinala o gerente de Construção da Casan, Fábio Krieger.
A partir de maio, prevê o dirigente, devem reiniciar também as obras de instalação de cerca de 10 quilômetros de tubulações remanescentes para conclusão da rede local, o que tecnicamente permitirá a entrada em operação de todo sistema a partir do começo de 2019. O efluente resultante de tratamento na estação será lançado provisoriamente no Rio Tavares, até a viabilização do polêmico emissário submarino de esgoto projetado para o Campeche.
Só a estação vai custar R$ 34 milhões e a rede outros cerca de R$ 6 milhões, segundo a Casan. Acerca do emissário, Krieger informa que a empresa protocolou no final do ano passado o EIA-Rima (estudo e relatório de impacto ambiental) sobre a obra junto à fundação de meio-ambiente (Fatma). Orçado em mais de R$ 200 milhões, o polêmico equipamento terá três quilômetros de extensão e 90 centímetros de diâmetro, com capacidade para expelir até mil litros de efluente por segundo. A rede do Campeche está projetada para gerar entre 200 a 300 litros por segundo. (Foto: Divulgação/Arquivo/JC)