Angelo Poletto Mendes/Redação JC
“Não podemo se entregá pros home”. O conhecido verso de um clássico da música gauchesca, dita por ninguém menos do que o manezinho da gema Arante Monteiro Filho, o Arantinho, um defensor intransigente da cultura açoriana, reflete o sentimento que move os moradores do Sul da Ilha após o desastre climático que se abateu sobre a região e a capital catarinense na madrugada de 04/12. O momento é de união de todos, nativos, adotados e recém-chegados para recuperar a infra-estrutura e a auto-estima da região.
Após um domingo de comoção e estupefação por conta da dimensão dos estragos, com raros estabelecimentos abrindo as portas para atender o público, na segunda-feira (05/12) o clima na região já era de superação, com lojas de material de construção lotadas, barulho intenso de motosserras, moradores e comerciantes consertando telhados, limpando suas residências e estabelecimentos comerciais. A intendência local botou o bloco na rua para ajudar os atingidos e recuperar a infraestrutura local.
Com ventos que ultrapassaram a velocidade de 118 quilômetros por hora, o ciclone extra-tropical que castigou o Sul da Ilha, a capital e boa parte da Grande Florianópolis na madrugada de quatro de dezembro já é considerada a maior tragédia climática da história da região. Segundo o diretor da Defesa Civil da capital, coronel José Cordeiro Neto, o volume de destruição provocado pelo fenômeno não encontra precedentes na história do município.
Precedido de chuvas intensas e intermitentes, que alcançaram em poucas horas o volume de águas previsto para o mês inteiro, o ‘fenômeno climático adverso’, conforme designação da Defesa Civil, iniciou por volta das 02h25 de domingo, e se estendeu por mais de três horas, até próximo de seis horas. Com rajadas de vento devastadoras, derrubou milhares de árvores e galhos, postes, paradas de ônibus, placas de propaganda e todo tipo de objetivo fixo que encontrava pelo caminho.
Milhares de residências foram destelhadas em toda a capital e região, muitas sofreram danos estruturais e houve até alguns deslizamentos de terra pontuais. “Foram mais de 700 árvores que caíram sobre residências”, destacou o coronel Neto. Balanço divulgado no dia 08/12 pela Defesa Civil municipal aponta mais de 800 desalojados em consequência do fenômeno, dos quais 400 ainda estariam em casa de parentes e amigos.
Cerca de 260 mil unidades consumidoras ficaram sem energia elétrica em consequência do fenômeno, a maior parte em decorrência da queda de postes e de árvores sobre a fiação. Em toda a região, teriam sido derrubados em torno de 300 postes da rede de energia elétrica. Só na capital, foram 191 mil unidades sem energia. Apesar da intensidade do fenômeno, não houve registros de vítimas fatais e mesmo feridos com maior gravidade.
(Foto: Milton Ostetto/Divulgação/JC).