Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Virar a página da tragédia climática é necessário, mesmo que a recuperação dos prejuízos materiais possa ser demorada, mas os momentos de pânico e terror vividos durante a passagem do fenômeno certamente não sairão tão cedo da memória dos moradores do Sul da Ilha. Casas que trepidaram como se fossem de brinquedo , telhados voando como folhas de papel, árvores que se contorciam parecendo pano e sons que se assemelhavam à passagem de um trem são alguns dos relatos sobre o fenômeno.
Choro e orações predominaram entre aqueles que puderam atravessar o episódio refugiados em casa, mas gritos e desespero alcançaram os atingidos pelo desastre. No Campeche, houve relatos de famílias inteiras que tiveram que sair correndo das residências, após a queda de telhados e paredes de alvenaria. Outros enfrentaram o fenômeno nas ruas, ajudando parentes e amigos.
O estivador aposentado Antônio Silva conta que teve se deslocar do Rio Tavares ao Ribeirão da Ilha para ajudar a filha, que teve o portão de vidro estourado pela ventania. “Enquanto me deslocava, era placa de tudo quanto é tipo voando pela frente; nunca tinha visto uma coisa dessas, foi assustador”, comentou Silva, que mora há quase 20 anos na capital.
O ativista comunitário Ataíde Silva disse que também saiu às ruas, para ajudar um amigo, e presenciou cenas inacreditáveis. “Vi telhados voando com prego, parafuso e madeiramento tudo junto; o telhado da Asfissi voava que nem papelão”, comentou. Dirigente da associação de moradores local e nativo da gema, Ataíde conta que em mais de 50 anos de vida, nunca presenciou um fenômeno de tamanha magnitude no Campeche.
Técnicos da Epagri anunciaram que o fenômeno climático que se abateu sobre a cidade foi um ciclone extratropical, cujo ápice atingiu perto das cinco horas. Ciclones são fenômenos da família dos furacões e dos tufões, caracterizados pela formação de um sistema de baixa pressão e ventos de altíssima intensidade. A diferença é que os furacões podem perdurar por vários dias, com ventos mínimos a partir de 118km por hora.
Meteorologistas garantem que novo ciclone nestas proporções está descartado a médio prazo na capital, mas é bom botar as barbas de molho. Com a devastação da natureza provocada pelo fenômeno, o cinturão verde de proteção contra ventos, chuva e calor vai ficar ainda mais debilitado no município. “A natureza não faz acordo conosco e nem estipula prazos”, sentencia o diretor da Defesa Civil municipal, coronel José Cordeiro Neto.
(Foto: Milton Ostetto/Divulgação/JC).