Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Outro desafio da temporada que se aproxima será superar a desconfiança dos visitantes acerca das condições de balneabilidade das praias da capital, principalmente depois do desastroso episódio da enxurrada de dejetos que abalou Canasvieiras no verão passado. Apesar do intenso alarido resultante do episódio, pouco mais do que algumas medidas paliativas foram adotadas para tentar resolver o problema que abalou a imagem da capital.
Embora a situação mais grave envolvendo o precário saneamento da capital tenha atingido o tradicional balneário do Norte da Ilha, outrora um dos mais badalados da cidade, o Sul da Ilha também tem contas a prestar com seus moradores e veranistas. Em meio à temporada passada, uma língua negra de origem suspeita surgiu em plena praia central do Campeche, oriunda de uma vala lateral ao acesso principal à praia.
O funesto evento provocou muita revolta, culminando com uma manifestação que levou centenas à praia, e foi alvo de inspeção por técnicos do município e de organizações independentes, entre elas a ONG Instituto Sea Sheperd Brasil, que apontou focos de poluição por esgoto doméstico. A intendência do Campeche, com apoio da Vigilância Sanitária e Associação de Moradores, saiu a campo para lacrar esgotos irregulares no entorno, mas os culpados pela foco poluente nunca ficaram claros.
A boa notícia acerca do saneamento do Campeche é que a Casan informa que acaba de ser assinado o contrato para retomada das obras de construção da estação de esgoto do Rio Tavares, projeto crucial para viabilização de todo o sistema de esgoto em implantação na região, paralisado há mais de dois anos. “Estamos aguardando apenas o Ministério das Cidades aprovar o processo licitatório para autorizar o início das obras”, assinala o gerente de Construção da Casan, Fábio Krieger. Os recursos virão da Caixa Econômica Federal.
Conforme o dirigente, o contrato foi assinado no final de setembro com a vencedora da licitação, a empreiteira mineira Infracon Engenharia, que bateu a catarinense Cosatel. O custo total da obra é de R$ 39,5 milhões para edificação de uma estação capacitada para tratar 202 litros por segundo de esgoto in natura. O tratamento será em nível terciário, com geração de efluente livre de nutrientes (fósforo e nitrogênio) e de até 90% da carga orgânica.
Mas nem tudo são flores. O prazo para conclusão desta obra, que se arrasta há quase 10 anos, é de pelo menos de 24 meses. Só depois de concluída a estação é que o sistema de esgoto do Campeche estará capacitado para finalmente entrar em operação. Até lá, a região seguirá dependente das tradicionais fossas sépticas e, principalmente, da conscientização da população local.
A intendência e associação de moradores informam que seguirão rastreando e lacrando ligações irregulares, e encaminhando denúncias ao governo municipal e Vigilância Sanitária. A Casan, por sua vez, planeja iniciar em breve uma ampla campanha de conscientização para coibir o despejo irregular na rede de tubulações inativas, que somam quase 15 quilômetros, além de ações pontuais para resguardo de seus equipamentos. (Foto: Milton Ostetto/Divulgação/Arquivo/JC)