Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Conhecida por suas posições de vanguarda na luta contra a aprovação de um plano diretor predatório e em defesa da sustentabilidade da região, a comunidade do Campeche saiu na frente mais uma vez e implantou a primeira horta-comunitária da capital. Maior do gênero na cidade, o projeto instalado numa área de quase quatro mil metros quadrados, dentro da área do futuro Parque Cultural do Campeche (Pacuca), caminha para seu primeiro aniversário.
Um dos voluntários que atuam no projeto, o incansável ativista comunitário e atual vice-presidente da associação de moradores do bairro, Ataíde Silva, destaca que a horta já se tornou referência na região, recebendo visitas constantes de grupos de alunos de escolas locais, moradores da região e muitos estrangeiros. A manutenção e cuidados com as centenas de hortaliças, legumes e até frutas produzidas no local é feita por um grupo de voluntários.
O destino dado à maior parte da produção da horta local, conforme Ataíde, são as entidades assistenciais voltadas à população carente, mas qualquer visitante que passa pelo local também acaba levando algum quinhão. Entre os itens produzidos no local estão alface, rúcula, repolho, tomate, rabanete, couve, batata-doce, temperos, além de frutas como morango, melão e uva, e até milho e mandioca. Todos os itens são produzidas sem o uso de agrotóxicos.
Além da bucolismo da atividade, da geração de alimentos a baixo custo e da benemerência, por trás do projeto está uma questão ainda maior, que é a solução para o destino dos resíduos orgânicos produzidos na capital, que representam quase 50% do volume total de lixo descartado diariamente na capital. Isso significa uma despesa anual para o município de cerca de R$ 15 milhões, que poderiam ser aplicados na infra-estrura urbana, saúde e educação, entre outros.
Desenvolvido em parceria com a Comcap, a horta comunitária é toda nutrida com adubo produzido a partir de compostagem com resíduos orgânicos coletados na capital. O presidente da Comcap, Marius Bagnatti, revela que a empresa cede o adubo, sementes, cepilho (restos de poda triturados) – que servem para nutrir e proteger os canteiros -, insumos para a terra e até mesmo empresta ferramentas e pessoal para estruturação das hortas.
O composto, cepilho e insumos são entregues no próprio local. No Campeche, o processo foi facilitado, destaca ele, pela existência da empresa Destino Certo, voltada à reciclagem de resíduos orgânicos. Na cidade, existem mais outras duas hortas deste tipo ativas, no bairro Daniela e no recém-inaugurado Jardim Botânico, e outra na iminência de ser implantada, no Monte Verde. Só na horta do Jardim Botânico, bastante modesto em relação à do Pacuca, foram colhidos recentemente dois mil pés de rúcula e rabanete,
“A horta do Pacuca foi nossa primeira experiência comunitária na cidade e que desencadeou a idéia de avançar nesse projeto”, comentou. Para a Comcap, explica ele, as hortas funcionam como uma espécie de vitrine para conscientizar a população sobre a importância da separação e reciclagem do lixo.
O objetivo final, destaca ele, é obter a curto e médio prazo a redução gradual da coleta, das despesas com movimentação de resíduos e do próprio passivo ambiental resultante deste processo. Para obter o incentivo da Comcap, o requisito é que parta de uma comunidade organizada e que a horta seja instalada em área pública. (Foto: Divulgação/Arquivo/JC)