11 de abril de 2016

PROJETO de maricultura na Praia do Matadeiro gera polêmica

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Alvo de admiração da população do Sul da Ilha pelo seu potencial econômico e simpático visual das fazendas marinhas que permeiam o Ribeirão da Ilha, a maricultura subitamente ganhou ares de ‘vilã’ na região, após a recente introdução de um polêmico projeto de cultura de ostras e mariscos na bucólica Praia do Matadeiro, uma das mais belas do Sul da Ilha, vizinha à Armação.
Apesar de dirigentes do governo municipal garantirem que o projeto é legal e que teria sido precedido de estudos ambientais, suFOTO MATADEIROa implantação enfrenta forte rejeição na região. O tema foi alvo de recente audiência pública realizada na Assembléia Legislativa estadual (foto ao lado) e, até o final de abril, deve ser alvo de nova audiência, desta vez promovida pela Câmara de Vereadores, na própria praia.
Exceto pelos seis beneficiários das licenças para exploração da atividade, numa área de 10 mil hectares, no entanto, até agora poucos no Sul da Ilha endossaram a iniciativa. Moradores, pescadores, surfistas, comerciantes e lideranças comunitárias são quase unânimes no repúdio à introdução da atividade na praia, cuja vocação histórica sempre foi o turismo, o surfe e a pesca.
Um dos mais críticos ao projeto é o presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Praia do Matadeiro (Amapram), Ezinar Tadeu Pereira. Para ele, além de comprometer a paisagem da praia, a atividade gera resíduos poluentes originados das cascas e dejetos dos animais, que botam em risco a balneabilidade do Matadeiro, e ainda interfere na rota das baleias-francas.
Pescadores, por sua vez, denunciam prejuízos à atividade de cerco, deslocamento e resguardo das embarcações, em períodos de tormentas, enquanto os surfistas temem interferência na qualidade das ondas; comerciantes vêem prejuízos à imagem do balneário. Dono de um dos restaurantes mais tradicionais do Matadeiro, o comerciante Mário Borinelli, também contesta o projeto que, na sua opinião, vai estragar o visual da praia e prejudicar o movimento de turistas. Morador da Armação e vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento do Sul da Ilha (Codesi), o engenheiro e físico nuclear Sérgio Aspar, acredita que faltou transparência na introdução do projeto. “É uma fonte de trabalho para esse pessoal, mas o custo-benefício deste projeto para a Armação e o Matadeiro é muito questionável”, ponderou.
Conforme Aspar, a região já enfrenta problemas sérios de esgotamento sanitário, com a contaminação dos rios Quincas e Sangradouro por esgotos domésticos, que pode se agravar ainda mais com a maricultura. Inobstante às críticas, o biólogo Felipe Matarazzo Suplicy, da Epagri, garante que o projeto teve início em 2003, envolveu estudos de impacto social e ambiental, audiências públicas e licitação antes da concessão das licenças.
(Foto: Divulgação/Arquivo/JC)