9 de fevereiro de 2016

INCÊNDIO destrói rancho e canoas de pesca centenárias no Campeche

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Aconteceu uma tragédia no Campeche. Queimaram o rancho do seu Aparício”. A frase lacônica pronunciada pelo experiente fotógrafo Milton Ostetto em telefonema ao redator deste jornal, na manhã de domingo (17/01), evidencia o grau de comoção que se abateu sobre os moradores do CamFOTO RANCHOpeche, especialmente os mais antigos, com o incêndio que destruiu o rancho de pesca do pescador Aparício Inácio, 77 anos. Sentimento similar à perda de uma pessoa querida ou mesmo de um familiar.
Um dos mais antigos em atividade no Sul da Ilha e na própria capital, o rancho de Seu Aparício virou um amontoado de cinzas em poucas horas, entre o final da noite de sábado e madrugada de domingo, enterrando consigo um conjunto de relíquias de valor histórico inestimável, entre elas duas canoas centenárias feitas com tronco de guapuruvus, usadas durante a tradicional safra da tainha, além de redes, coletes e utensílios de pesca.
A causa do fogo ainda é desconhecida, mas a suspeita é de que tenha sido de origem criminosa. Entre os motivos aventados, estaria um suposto atrito com barqueiros irregulares que atuariam na região, mas não está descartada também a hipótese de ação de especuladores, envolvendo interesses imobiliários. O prejuízo estimado com o incêndio é de cerca de R$ 100 mil. A família registrou ocorrência na Polícia Civil.
Além de utilizado para abrigo das canoas e material de pesca em geral, o rancho de Seu Aparício também funcionava como ponto de encontro de pescadores e moradores que colaboravam nas atividades pesqueiras, principalmente no período da safra da tainha, que se estende de maio a julho. O rancho ficava situado há cerca de 100 metros de outro rancho da família Inácio, de propriedade de seu irmão, Getúlio.
MOBILIZAÇÃO – Conhecidos por sua capacidade de mobilização, moradores e lideranças comunitárias do Campeche já deram início a um projeto de reconstrução do histórico rancho consumido pelas chamas. A largada para a operação aconteceu na quarta-feira (20/01), em reunião realizada no rancho de pesca vizinho, que contou com a participação, entre outros, do vereador Vanderlei Farias, o Lela, presidente da comissão de pesca da Câmara, e do vice-presidente da Associação de Moradores do bairro (Amocam), Ataíde Silva.
“Foi uma estupidez enorme, um crime contra o Campeche e a cultura açoriana”, assinalou Silva. A Prefeitura, através de um fundo de apoio à pesca, já teria destinado R$ 30 mil para ajudar na recuperação de equipamentos de pesca, redes e outros utensílios. A reconstrução do prédio de madeira, com pouco mais de 110 metros quadrados, dependerá de um arranjo um pouco mais complicado.
O vereador Lela assumiu o compromisso de fazer a ponte junto ao Executivo para buscar fontes de apoio à reconstrução. O vice-presidente da Amocam prometeu deflagrar uma campanha de arrecadação de recursos na comunidade. “Estamos levantando custos para a reconstrução e vamos tentar enquadrar a obra em algum projeto federal de recuperação do patrimônio histórico”. Erguido nos anos 30 do século passado, o rancho de Seu Aparício era um dos quatro ainda ativos no Campeche. (Foto: Milton Ostetto/Divulgação/JC)
NOTA DA REDAÇÃO – Na quarta-feira (10/02/16), pouco depois das 8h30, o presidente da Associação dos Pescadores do Campeche, Getúlio Inácio, ligou para o redator deste Jornal, solicitando a inclusão, no conteúdo da matéria acima, publicada na edição impressa, de algumas informações adicionais. Segundo Getúlio, a reunião para articular a reconstrução do rancho de seu irmão, Aparício Inácio, vítima do incêndio relatado na matéria, foi promovida pela Associação dos Pescadores do Campeche.
A entidade, de acordo com ele, foi também a responsável pela escolha dos membros que compuseram a mesa, que conduziu as discussões. “Algumas autoridades não vieram, mas está tudo relatado em ata da associação para quem quiser ver”, assinalou. O dirigente informou ainda que o seu rancho de pesca, instalado próximo ao rancho vitimado, funciona também como sede da associação dos pescadores locais.