As maiores pestes, como, por exemplo, a peste negra, que dizimou um terço da população da Europa, mostrou aos médicos que higiene é sinônimo de saúde, e sujeira, sinônimo de doença. A Organização Mundial da Saúde mostrou que 1 dólar investido em saúde básica em países desenvolvidos equivale a 4 dólares poupados na saúde pública. Já nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, como aqueles do continente africano, esse valor pode ser maior até do que 20 dólares. Ou seja, 20 vezes o valor aplicado no tratamento da água, do esgoto e do lixo.
O SUS há muito tempo não suporta mais a sinistralidade da população do país, oferecendo serviço medíocre e indignoaos brasileiros. Digo isso com autoridade de ser funcionário publico da saúde há mais de 30 anos. São absolutamente inacreditáveis as declarações do Ministério da Saúde, assim como é inimaginável que a presidente da república chame todos os governadores brasileiros para falar sobre o mosquito Aedes aegypti e não diga uma só palavra sobre saneamento básico, restringindo suas ações a idiotices como o recrutamento do exército e, agora, sondando, a marinha e a aeronáutica, para combater o mosquito.
O exército não precisa entrar nas casas dos brasileiros. O que nós precisamos é de educação e de informação. A população precisa saber que lixo e esgoto não canalizado são sinônimos da proliferação de vetores como ratos, baratas, pulgas, moscas e mosquitos transmissores de doenças, muitas delas fatais e, a grande maioria, levando a internações hospitalares que oneram e desgastam o já falido Sistema Unificado de Saúde. Nossos políticos precisam ter consciência de que estamos pelo menos 30 anos atrasados no combate especificamente dos mosquitos, sobretudo do Aedes aegypti, que transmite a chikungunya, a dengue e a zika. A vacina demora. Não é do dia para a noite que se resolve um problema de saúde tão grave, mas sim com inteligência e gente competente que, obviamente, não é o caso do Ministério da Saúde do Brasil. (Texto: Beny Schmidt. Foto: Fotos Públicas/Divulgação JC)
Sobre o autor:
* Beny Schmidt é chefe e fundador do Laboratório de Patologia Neuromuscular e professor adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele e sua equipe são responsáveis pelo maior acervo de doenças musculares do mundo, com mais de doze mil biópsias realizadas, e ajudou a localizar, dentro da célula muscular, a proteína indispensável para o bom funcionamento do músculo esquelético – a distrofina. Beny Schmidt possui larga experiência na área de medicina esportiva, na qual já realizou consultorias para a liberação de jogadores no futebol profissional e atletas olímpicos. Foi um dos criadores do primeiro Centro Científico Esportivo do Brasil, atual Reffis, do São Paulo Futebol Clube, e do CECAP (Centro Esportivo Clube Atlético Paulistano). Foi homenageado pela Câmara Municipal de São Paulo com a entrega da Medalha Anchieta e do Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, como agradecimento por todos os seus feitos em prol da saúde. Seu pai, Benjamin José Schmidt, foi o responsável por introduzir no Brasil o teste do pezinho.