Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O hábito de beber regularmente desde a juventude, agravado por uma separação traumática no início dos anos 90, após 18 anos de casamento, fizeram Miguel(*), hoje com 65 anos, mergulhar de cabeça no alcoolismo. Dos 45 aos 50 anos, o ex-bancário, nativo da Caieira da Barra do Sul, viveu uma verdadeira estadia no inferno. Bebia de manhã à noite, negligenciava o trabalho, perdeu o controle de sua vida e suas relações afetivas.
“No começo era só cerveja, depois no final era vodka, cachaça, todo tipo de bebida”, comentou. Em 1999, não pôde comparecer ao casamento de seu único filho, porque se encontrava alcoolizado, levando- ao desespero. “Foi ali que decidi procurar ajuda”, revelou. Com a ajuda de um irmão e de alguns conhecidos, passou por diversas clínicas para dependentes até chegar aos Alcoólicos Anônimos (AA), em agosto de 1999.
Graças ao AA, Miguel se recuperou, já está há 15 anos longe da bebida, construiu um novo casamento e resgatou laços familiares. Apesar disso, freqüenta até hoje as reuniões semanais da entidade, vigilante para evitar recaídas. “Vale a pena viver sóbrio; a minha distância do copo é a mesma de alguém que não bebe há dois dias”, adverte. “O AA é uma filosofia para toda vida”, assinala.
Desvinculado de quaisquer religiões ou credos, o AA é uma irmandade destinada a homens e mulheres que tenham em comum a vontade de deixar de beber. Sem cobranças de mensalidades, com reuniões abertas ao público, possui uma doutrina exitosa na recuperação de dependentes. Atua na capital desde o início dos anos 70, possuindo atualmente 27 grupos no município, três deles no Sul da Ilha.
A manutenção da entidade se dá pela colaboração voluntária dos próprios recuperandos, e venda de literatura específica durante os encontros. O diretor adjunto do AA no estado, Ayrton, que está há 16 anos ‘limpo’, garante que se a pessoa levar a sério e cumprir os 12 passos fundamentais da doutrina, consegue se livrar da doença e dificilmente sofre recaída. Segundo ele, o período mais crítico da recuperação acontece nos primeiros 90 dias.
Nessa fase, conforme ele, o ideal é que o recuperando participe do máximo de reuniões para evitar dispersão e riscos de recaída. Como existem vários grupos do AA na capital, com reuniões em dias alternados, o recuperando pode assistir a várias reuniões durante a semana. No Sul da Ilha, os três grupos do AA existentes funcionam no Campeche, Ribeirão da Ilha e Tapera.
No Campeche, as reuniões acontecem todas as quintas-feiras, a partir das 20 horas, na capela da igreja São Sebastião; no Ribeirão da Ilha, acontece às quartas-feiras, a partir das 20h, no centro comunitário local; na Tapera, os encontros acontecem aos sábados, a partir das 18 horas, na Capela Santa Rita, na avenida Açoriana. (*) nome fictício.
Maiores informações: 3224.6713 ou www.aa-area14sc.org.br
FOTO-LEGENDA: Reunião dos Alcoólicos Anônimos acontece todas as semanas em três bairros do Sul da Ilha. (Foto: Milton Ostetto/Divulgação/JC)