Angelo Poletto Mendes/Redação JC
O Caçador de Pipas é, sem dúvida, uma boa história. Não por acaso virou roteiro de filme, prestes a estrear no circuito mundial. Romance de estreia do afegão naturalizado norte-americano Khaled Hosseini, a obra alçou-o quase que se imediato ao panteão dos mais badalados escritores mundiais, digamos num patamar intermediário, um pouco acima do espanhol Carlos Zafón Ruiz, mas ainda bem abaixo do célebre autor de best-sellers, o norte-americano Dan Brown.
O romance cumpriu a rigor uma de suas premissas, que era desmistificar um pouco do enigma Afeganistão, um país distante e ainda muito pouco conhecido no Ocidente, embora considerado peça-chave no tabuleiro da geopolítica mundial. Situações comezinhas do cotidiano daquele país, cultura, tradição e política interna são reveladas com ares de autenticidade ao crivo ocidental.
Afora isso, contudo, a obra ganhou muito mais badalação do que merecia. Embora boa, escorrega inapelavelmente para o elogio constante aos valores ocidentais e até mesmo uma exagerada propaganda dos Estados Unidos, embora de maneira um tanto disfarçada. Fruto talvez da paixão juvenil e da falta de experiência do romancista, nascido em 1965 em Cabul, mas radicado desde os 15 nos Estados Unidos, onde atua também como médico. Sem falar, é claro, na qualidade intrínseca do escritor, na época ainda bastante modesta.
Se esperava que ao voltar à lide, 10 anos depois, Khaled mostrasse alguma importante evolução como escritor. O Silêncio das Montanhas, contudo, repete alguns deslizes de seu best-seller de estréia (com o perdão da desastrada nova reforma ortográfica) e novamente enaltece, mesmo que com um pouco mais de sutileza, valores ocidentais, frustrando outra vez aqueles que desejariam se aprofundar um pouco mais sobre temas afegãos.
Não bastasse isso, numa estrutura novelesca, com arrastados capítulos dedicados a personagens secundários e costurado a partir de uma ótica pequeno-burguesa, que privilegia a futilidade, a obra descamba para o melodrama. Para completar, Hosseini mostra ao leitor mais exigente pouquíssima evolução como escritor, embora a obra contenha algumas pequenas doses circunstanciais de sofisticação textual. Uma decepção, sem dúvida, para quem nutria expectativas. Mas seria injustiça taxá-la de desprezível, e como opinião cada um tem a sua, vale conferir para tirar suas próprias conclusões. (Angelo Poletto Mendes é jornalista profissional e poeta, autor do livro ‘Rosa Paralela’ (Grafosul, Porto Alegre, 1982).