A solidão e sua porta
(*)Carlos Penna Filho
Quando nada mais resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E, quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha),
Quando, pelo desuso da navalha,
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar,
Deixando-te sozinho na batalha
A arquitetar na sombra a despedida
Do mundo que te foi contraditório,
Lembra que, afinal, te resta a vida
– Com tudo o que é insolvente e provisório –
E que ainda tens uma saída:
Entrar no acaso e amar o transitório.
(*) Poeta pernambucano, 1929-1960
OBS: foto meramente ilustrativa, extraída do site www.obviousmag.org