Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Apesar da maioria dos literatos torcerem o nariz para sua obra, o norte-americano Dan Brown é, sem dúvida, o escritor norte-americano mais bem sucedido das últimas décadas em termos mercadológicos. Não exatamente por sua qualidade literária, é bom que se diga, muito longe do virtuosismo textual e mesmo de argumento de outros célebres conterrâneos. Contudo, com sua estratégia de remexer em velhos tabus, Brown angariou um público fiel e é um dos poucos escritores mundiais que pode se dizer que ficou verdadeiramente rico através da literatura. Quem conheceu Dan Brown através do best-seller O Código Da Vinci, lançado em 2003, que vendeu 80 milhões de exemplares em todo o mundo, deve ter ficado impressionado e acreditado estar diante de um novo fenômeno literário, não apenas de mercado. A instigante obra, contudo, foi provavelmente o ápice do escritor, que dificilmente conseguirá repetir a dose. Sua obra seguinte, O Símbolo Perdido, lançado em 2009, que se propunha desvendar a enigmática maçonaria, foi de uma superficialidade constrangedora e, ao final, pareceu mais um elogio à polêmica irmandade. Embora celebrizado a partir do ‘Código’, Brow estreou na literatura ainda em 1998, com Fortaleza Digital, uma trama de pouca repercussão sobre o serviço secreto dos EUA. Depois, lançou ‘Anjos e Demônios’, em 2000, e ‘Ponto de Impacto”, em 2001. Destes, ‘Anjos e Demônios’ é provavelmente a mais significativa, tendo como pano de fundo também velhos tabus da Igreja. Apesar do predomínio de uma simbologia consistente em toda sua obra, inegavelmente a custo de muito estudo e pesquisa, talvez sua principal virtude, Brow peca pelo excessivo formulismo. O escritor parece ter um ‘esqueleto’ pronto, uma roupagem única, igual, que aplica em todos os seus romances. Os personagens são muitíssimo parecidos e as situações e a engrenagem contêm poucas variáveis. Às vésperas de lançar sua mais nova obra, abordando descobertas acerca do polêmico personagem bíblico Judas Iscariotes, a expectativa é de que consiga romper com esse modelo e ofereça um trabalho mais original. (Angelo Poletto Mendes é jornalista profissional e poeta, autor do livro ‘Rosa Paralela’ (Grafosul, Porto Alegre, 1982).