Que o saneamento básico é fundamental para preservar o meio-ambiente e a balneabilidade das praias não restam dúvidas. Contudo, ao invés de empolgar, as obras de instalação da rede de esgotos que avançam a olhos vistos no Campeche e região aumentam a apreensão de moradores e dirigentes locais, especialmente aqueles que conhecem mais de perto aspectos técnicos acerca do funcionamento do futuro sistema planejado para a região. O motivo principal foi a recente divulgação de um amplo relatório elaborado pela Fundação Estadual do Meio-Ambiente (Fatma), que aponta inúmeras irregularidades na operação das estações de tratamento de esgotos mantidas pela Casan na capital e Grande Florianópolis. Entre as falhas estariam a ausência de manutenção de equipamentos e até vazamento de esgotos. Nenhuma das oitos existentes na capital, conforme o documento, funcionaria adequadamente. Além de falhas técnicas, a Fatma revelou que a maioria não possuiria sequer licenciamento operacional. A preocupação dos dirigentes comunitários do Campeche se acentua por se encontrar em pleno andamento as obras de uma estação de saneamento no Rio Tavares, possivelmente a maior de todas do complexo de estações mantidas pela Casan na capital. A unidade, que terá cinco mil metros quadrados de área construída, com capacidade inicial para tratar 78 litros por segundo, será responsável pelo tratamento de todo esgoto que será despejado posteriormente no projetado emissário submarino do Campeche. Segundo o gerente de Construção da Casan, Fábio Krieger, a unidade já estaria com cerca de 20% dos trabalhos executados, com expectativa de conclusão em meados de 2013. O vice-presidente da associação de moradores do bairro (Amocam), Ataíde Silva, afirma que o relatório evidencia a falta de confiabilidade que cerca a Casan no tratamento e destinação dos efluentes finais de esgoto na capital. “Essas estações são mantidas por pouquíssimos funcionários e ninguém sabe direito como funcionam”. Silva teme que a estação local venha a ser o destino de quase todo esgoto coletado na Grande Florianópolis. Segundo ele, como existe um compromisso de se preservar as baías, em função da maricultura, a tendência é que esse esgoto todo seja destinado ao Rio Tavares, comprometendo a operação da estação. “Existe o risco dessa estação virar uma mera caixa de passagem do esgoto, porque não terá capacidade para tratar tanto volume”, ponderou. Krieger garante que, embora tenha capacidade para abrigar futuras ampliações, a estação do Rio Tavares está projetada para tratar exclusivamente o esgoto coletado no Campeche e Sul da Ilha. O dirigente atenua também as irregularidades detectadas no relatório da Fatma. Muitos dos problemas elencados no documento, de acordo com ele, já teriam sido resolvidos, outros estariam em fase de resolução e outros tantos teriam sido questionados pela companhia. (Foto: Willi Heisterkamp/Divulgação/Arquivo/JC)
28 de agosto de 2012