10 de julho de 2012

LETRAS & LIVROS: Terror refinado

Para quem aprecia histórias de terror bem elaboradas que, apesar das quase inevitáveis nuances sobrenaturais, ofereçam algum grau de plausibilidade, a leitura do inglês Algernon Blackwood é uma grande pedida. Autor pouco conhecido no Brasil, onde são escassas as traduções de suas obras, notadamente contos e novelas, Blackwood teve uma ótima compilação de seus contos lançada pela Record, a cargo da especialista em ‘terror’ Heloísa Seixas, em 2001, quando se completaram 50 anos de sua morte, ocorrida em 1951, aos 82 anos. A própria Heloísa admite, no prefácio de ‘A Casa do Passado’, título de um de seus contos e que também dá nome ao livro, que descobriu Blackwood por acaso, ao adquirir uma antiga e surrada coletânea de terror num sebo qualquer. Ficou tão empolgada com seu estilo, que fez uma pesquisa frenética sobre o autor na internet e livrarias dos EUA e Inglaterra, até culminar com o lançamento da compilação, que oferece ainda como bônus para os apreciadores do gênero algumas ilustrações de outro expoente do terror, o desenhista brazuca Mozart Couto. Blackwood, contudo, já era citado como referência por ninguém menos do que H.P.Lovecraft, o incomparável mestre do terror fantástico, no livro “Horror Sobrenatural em Literatura”, obra na qual o norte-americano elenca suas principais leituras e influências do gênero, lançado no final dos anos 30. Este redator, atento às dicas de Lovrecraft, buscou Blackwood na ‘estantevirtual’ e chegou à compilação de Seixas. Os contos de Blackwood possuem todos os atributos tradicionais das histórias de terror clássicas: estradas e paisagens ermas, casas sombrias, personagens estranhos, situações arrepiantes e algumas pitadas de sobrenatural, sem exageros. O argumento e a condução das narrativas são quase impecáveis, num texto limpo e instigante. Em ‘A Casa do Passado”, destacam-se os contos ‘O quarto ocupado’, ‘O caso Pikestaffe”, “A boneca” e “O Lobo Andarilho”, entre outros, além de sua obra-prima, o impressionante conto “Os salgueiros”. (Angelo Poletto, jornalista)