Apesar da simples referência à palavra provocar erisipela em boa parte da população da região, o emissário submarino para lançamento de efluente de esgoto em mar aberto, projetado para o Campeche, ganhou novo impulso em meados de abril, com a assinatura de um milionário contrato de financiamento da Casan junto à Caixa Econômica Federal. A instituição federal vai emprestar R$ 404,7 milhões para estatal catarinense, para aplicação em obras de saneamento básico em seis municípios do estado, dos quais R$ 196 milhões para Florianópolis. Desse montante destinado à capital, de acordo com a Casan, cerca de R$ 97 milhões estariam reservados para a polêmica obra de implantação do emissário de esgoto do Campeche. O gerente de Construção da empresa, Fábio Krieger, revela que a empresa já teria adquirido inclusive a área que vai abrigar a base do emissário terrestre que fará a ligação da futura estação de saneamento do Rio Tavares ao equipamento submarino, cujo ponto de partida, por sua vez, ainda depende da conclusão de estudos técnicos. Krieger salienta, contudo, que a instalação do equipamento ainda deve demandar alguns anos até virar realidade. O projeto ainda se encontra em fase de estudos técnicos, para elaboração dos famosos EIA-Rima (estudos de impacto ambiental) que, por sua vez, vão amparar uma posterior audiência pública. Só depois desta audiência, em data ainda indefinida, possivelmente no final do próximo ano, o projeto será encaminhado para licenciamento. “Depois, se sair a licença, a obra de instalação do emissário ainda leva mais dois anos para ficar pronta”, assinalou. O emissário é uma das peças-chave para o funcionamento da futura rede de esgoto do Campeche, pois terá a função de dar destino ao efluente tratado na futura estação de esgoto do Rio Tavares. O vice-presidente da Associação dos Moradores do Campeche (Amocam), Ataíde Silva, garante que a entidade está atenta ao projeto e pretende deflagrar uma ampla mobilização de repúdio ao sistema de rede de esgoto em implantação na região. “O emissário é um modelo agressivo e ultrapassado, em desuso em todo o mundo; eles querem implantar aqui porque é a solução mais rápida e de baixo custo para despejar o esgoto”, argumentou. O dirigente vai mais longe e vê um futuro quase macabro para o Campeche em caso de implantação do emissário. “É bom a comunidade ficar atenta porque no futuro o mar do Campeche vai receber o esgoto de toda a Grande Florianópolis; a maricultura não aceita que se lance esgoto nas baías, então onde serão lançados os esgotos de Biguaçu, São José, Coqueiros, Jardim Atlântico e toda a região continental? No Campeche!”. A Casan, contudo, garante que inicialmente o emissário do Campeche estaria projetado para receber apenas o esgoto do Sul da Ilha. (Foto: Willi Heisterkamp/Divulgação/Arquivo/JC)
23 de maio de 2012