A depressão é uma doença epidêmica na nossa sociedade e acomete mais as mulheres do que os homens. Na verdade, na Classificação Internacional das Doenças, em sua última revisão, a depressão pode ser crônica e pouco intensa recebendo o nome de distmia. Outro quadro depressivo conhecido é o cíclico, que faz parte dos distúrbios de humor onde a euforia se alterna com o quadro depressivo. Há muitos outros quadros depressivos que se manifestam ou através de somatização, quando o que se sente são sintomas físicos mascarando o estado emocional; ou quadros que se manifestam após traumas importantes classificados como transtorno de adaptação e para terminar os exemplos nesse texto quadros fóbicos ou de pânico que tem a depressão como base ou decorrência. Portanto a palavra depressão pode tanto se referir a uma doença devidamente classificada como apenas um sintoma. Outro detalhe interessante é a diversidade desse quadro que varia também conforme a cultura. Quando me perguntaram se a incidência de depressão entre mulheres africanas, estudadas pelo professor Henri Collomb no Senegal, era tão alto como em nossa sociedade eu não sabia responder. Fui revisar os trabalhos do professor da Universidade de Nice onde estudei e nada encontrei. Finalmente a conclusão: havia uma incidência tão pequena de depressão naquelas sociedades que viviam de forma diferente da nossa que nem fizeram esse tipo de comparação. Se fatores culturais determinam a freqüência e intensidade dos sintomas depressivos, a questão de gênero também deveria ser afetada. Os estudos epidemiológicos na sociedade moderna e em diferentes partes do mundo vão ser unânimes: as mulheres têm neste caso uma maior prevalência entre os adultos. Cerca de o dobro das mulheres são acometidas, em comparação com os homens, no transtorno afetivo unipolar, por exemplo. O período onde isso acontece é durante sua vida reprodutiva, da menarca a menopausa. Alguns autores arriscam em afirmar que o impacto dos hormônios sexuais femininos é o responsável por esta diferença. Citam como exemplo, que a prevalência sobre as mulheres dobra ou triplica na medida em que se compara com os homens, na fase de maturação, quando na mulher esses hormônios flutuam alternadamente. São conhecidas as tensões pré-menstruais; depressão pós-parto e as alterações na menopausa. Isso tudo parece evidente até recorrermos a outras etnias onde não observamos esses quadros e nem a depressão. Alguns autores suspeitam que a intoxicação que já sofremos desde o útero materno, por fatores ambientais ou alimentares, afeta mais as mulheres do que os homens no mundo moderno. Outra constatação que põe em dúvida a suspeita hormonal é o fato de após uma psicoterapia, sem prescrição de medicamentos ou reposição hormonal, a pessoa tratada se livra dos sintomas. Ela continua passando pelas oscilações do estrógeno e progesterona da mesma forma, mas reagindo naturalmente. As evidências de que mais mulheres do que homens durante os estados depressivos sentem desesperança, diminuição do interesse sexual, sentimentos de culpa, aumento do peso ou compulsão alimentar parecem ser incontestáveis. Já sua etiologia e nem as propostas de tratamento têm um consenso na ciência. Marcos de Noronha Psiquiatra Fonte: www.sitemedico.com.br
21 de setembro de 2010