17 de março de 2010

VIDA & SAÚDE: Alimentação e déficit de atenção com hiperatividade

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade, sendo o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Em mais da metade dos casos, o TDAH acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos. O cérebro consome de 20% a 25% de toda a energia dos alimentos que ingerimos, e a qualidade da alimentação claramente afeta seu modo de funcionar, sendo a dieta adequada um grande coadjuvante do tratamento. Mesmo as pessoas que fazem tratamento exclusivamente medicamentoso beneficiam-se com uma dieta mais adequada a um cérebro que funciona de uma forma muito peculiar. Cerca de 50% do cérebro é composto por lipídios, sendo 35% desse conteúdo na forma de gorduras poli-insaturadas. A proporção entre as gorduras ômega-6 e ômega-3, da dieta, está relacionada com a neurotransmissão serotoninérgica e catecolaminérgica, participando de processos metabólicos que podem explicar as relações com alterações de humor e TDAH. A alimentação brasileira caracteriza-se pela relação inversa entre essas duas gorduras, ou seja, muito ômega-6 para pouco omega-3, o que aumenta a produção de substâncias inflamatórias no organismo. Estudos recentes relacionam o uso do DHA (derivado do omega-3) com a melhora dos sintomas de TDAH, depressão e alzheimer. Essa gordura melhora a transmissão de impulsos nervosos, trazendo benefícios para a concentração, memória e habilidades motoras, e prevenindo doenças degenerativas cerebrais. O consumo de triptofano (precursor do neurotransmissor serotonina) pela dieta ou por suplementação pode auxiliar amenizando a ansiedade referida pelo próprio quadro do TDAH ou pelo efeito colateral do tratamento medicamentoso. Outros nutrientes que se tornam importantes no tratamento do TDAH são cálcio, magnésio e vitamina B6, que estão envolvidos com o bom funcionamento do sistema nervoso central. Por outro lado, o consumo de açúcar e outros alimentos de alto índice glicêmico geram picos de glicemia no organismo, incompatíveis com um cérebro com dificuldades de manter padrões estáveis de funcionamento. Algumas ervas e especiarias também atuam melhorando o funcionamento do SNC, como por exemplo a camellia sinensis (chá verde), protegendo contra doenças neurodegenerativas, a salvia officinalis (salvia) e o panax ginseng (ginseng) melhorando o humor e a performance cognitiva . Mas é importante que seja utilizada a parte correta da erva/especiaria (folhas, caule, raiz, rizoma) e também que ela seja preparada da forma correta (infusão, decocção, tintura, extrato), com prescrição de dose e tempo de tratamento para que surta o efeito desejado. O diagnóstico e tratamento do TDAH deve ser feito por um profissional capacitado, e cada caso deve ser avaliado individualmente por um nutricionista para prescrição dietoterápica e suplementação adequadas, se necessário. (Letícia Zago, nutricionista)