A música do gênio Tom Jobim afirma: a gente mal nasce e começa a morrer. O brasileiro vivia em média 37 anos no início do século passado. Em 1950, a média passou para 52 anos, ampliou para 62 anos em 1990 e para 72 anos em 2008. Para especificar melhor, a média feminina é de 76 anos e a masculina, 68 anos. Esta informação nos permite entender porque é muito raro verificarmos em todo o mundo excursão de viúvos. A explicação é simples: as mulheres vivem muito mais e conseguem ficar sozinhas sem dificuldades. Quando o inverso acontece, a maioria dos homens não fica sozinho mais do que seis meses. Este fenômeno, de que as mulheres vivem mais tempo, independente de genética e fatores hormonais, tem relação direta com seu estilo de vida. De acordo com a teoria evolucionista de Charles Darwin, foram destinadas ao homem maduro, após os 40 anos, três desgraças: câncer de próstata, impotência sexual e diminuição da produção do hormônio masculino, a testosterona. Ainda assim, os homens vão ao médico três vezes menos do que as mulheres. Segundo previsão do Instituto Nacional do Câncer, em 2009, surgirão 50 mil novos casos de câncer de próstata no Brasil. A rotina determinada pelos consensos internacionais é de que, se o homem tiver antecedentes de câncer de próstata na família de primeiro grau, como pai ou irmão, suas chances de ter câncer aumentam em 50%. Os exames deverão ser feitos a partir de 40 anos, uma vez ao ano, com P.S.A. (exame de sangue), toque retal e ultrassonografia. Se o homem não apresentar antecedentes familiares, a rotina anual de exames deverá iniciar aos 45 anos. De cada seis homens, um terá câncer de próstata, o equivalente a 18% da população masculina. Os negros têm cinco vezes mais câncer de próstata do que os brancos, que, por sua vez, têm três vezes mais a doença do que os orientais. O homem que ejacula três vezes por semana teria 50% menos chances de desenvolver câncer de próstata em comparação com os preguiçosos sexuais. O diagnóstico precoce do câncer prostático permite cura total da doença em mais de 90% dos casos, desde que realizados cirurgia radical, radioterapia e braquiterapia. Alguns hábitos como ingestão de licopene (presente no tomate, goiaba vermelha e melancia), selênio, zinco (que pode ser encontrado na castanha do pará), chá verde e 200ml de vinho tinto seco por dia são benéficos à próstata. No entanto, o principal temor dos homens sexualmente ativos diz respeito às sequelas dos tratamentos, entre elas da disfunção erétil. Entre 40 e 70 anos, 50% dos homens terão impotência sexual de origem orgânica. Apenas 17% dos homens que têm o problema procuram o médico para pedir ajuda. Diabetes, pressão alta, cigarro, sedentarismo, colesterol alto, circunferência abdominal superior a 90cm, baixa produção de testosterona, doenças neurológicas clínicas e de trauma, prostatectomia radical, tratamento hormonal do câncer de próstata, antidepressivos e finasterida podem estar relacionados com a disfunção erétil. Tratamentos definitivos com drogas de uso oral, injeções ou, em última instância, cirurgias de prótese peniana, podem recuperar totalmente a vida sexual do homem afetado pela impotência. Exames sofisticados e superespecializados permitem que o diagnóstico da disfunção erétil seja feito adequadamente, agilizando e otimizando o tratamento. Após os 40 anos, os homens perdem fisiologicamente 1% da produção de testosterona ao ano, levando à síndrome do Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino. Isso leva o homem a apresentar sintomas na área cognitiva como perda de memória, raciocínio lento, irritabilidade, insônia e depressão, além de aumentar em 50% a chance de desenvolver a doença de Alzheimer. O melhor tratamento, nestes casos, envolve a reposição hormonal, que pode ser feita com medicamentos via oral, adesivos de pele e drogas injetáveis. A reposição de testosterona também pede uma vigilância maior em relação à próstata, por isso o tratamento exige o acompanhamento de um especialista. De qualquer maneira, a possibilidade hoje de vivermos muito mais e com qualidade de vida deve ser o motivo principal para que, exatamente como as mulheres, nós, homens, passemos a fazer estas avaliações como rotina a partir dos 40 anos de idade. (Dr. Ivan Moritz Martins da Silva, chefe do Serviço de Urologia do Hospital Governador Celso Ramos/Florianópolis)
3 de novembro de 2009