Há alguns meses, os cinemas foram invadidos por uma leva de filmes voltados ao público jovem, os chamados “blockbusters”. O objetivo claro era ganhar muito dinheiro, aspecto que funcionaram muito bem, porém, em relação a qualidade técnica e artística, havia um abismo muito grande entre eles. Alguns desse já estão há algum tempo nas locadoras, casos de Homem-Aranha 3 e Quarteto Fantástico 2, outros estão chegando agora e podemos ver claramente essas diferenças nos principais títulos do mês: Piratas do Caribe no Fim do Mundo, Transformers, Harry Potter e a Ordem de Fênix e Ratatouille. Desses quatro, Piratas é disparado o pior, o que não chega a ser uma grande surpresa, pois o filme anterior já havia sido bem fraquinho, e não dá prá esperar muito de uma série baseada em um brinquedo da Disney. Na verdade, a franquia inteira recai sobre os ombros do ótimo Johnny Deep (mostrando cada vez mais ser um dos melhores atores de sua geração) e seu Jack Sparrow. Transformers chegou fazendo muito barulho, não tanto nas crianças atuais, mas nas dos anos 80, época em que os brinquedos e os desenhos eram febre mundial. O filme chega a surpreender em alguns aspectos ao criar um clima ágil e até certo ponto envolvente, mas certamente divertido. Seu maior pecado é a longa duração, duas horas e meia, quando 90 minutos seria mais que o suficiente para a trama. Se começamos mal, as coisas melhoram com o último Harry Potter, o que não deixa de ser uma surpresa, pois há muito tempo não havia uma recepção tão negativa a um filme desse nível. É até compreensível se pensarmos que o filme é uma adaptação de um livro de mais de 700 páginas em pouco mais de duas horas. O tempo que sobrou em Transformers poderia ter sido utilizado aqui. O resultado é que personagens foram mudados, tramas modificadas e trechos simplesmente suprimidos. Mas, se não levarmos em consideração o livro, a situação muda bastante. É certo que a trama fica um pouco confusa , mas fora isso ainda é bastante interessante. Harry agora é um adolescente revoltado, sombrio e confuso que começa a tomar consciência de sua responsabilidade. Com um elenco afinado, uma direção segura e ótimos efeitos, fica como o segundo melhor lançamento dos quatro. A cereja do bolo é Ratatouille. A cada novo filme a Pixar se supera e faz algo ainda melhor. E cada vez mais se firma como o investimento mais seguro do cinema atual. Ratatouille é uma aula de tecnologia digital, mas o grande diferencial do estúdio continua sendo seus roteiros. Se formos pensar bem, a história de um rato que quer ser chef de cozinha na França, tinha tudo para dar errado, mas a Pixar mostrou que com qualidade, tudo pode tornar-se verossímil. Alguns detalhes fazem toda a diferença. Os pratos, os vinhos, as técnicas de preparação, a hierarquia da cozinha, tudo segue um padrão próximo da realidade. E onde estava o grande perigo da história está seu grande trunfo. O inacreditável relacionamento entre o rato e seu amigo humano. Só vendo para crer. Ratatouille já nasceu clássico. Um dos melhores filmes do ano.(Críticas de Dílson Frantz)
26 de dezembro de 2007