20 de junho de 2006

Onda verde-amarelo

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

A partir deste mês, até o próximo dia 9 de julho, data da finalíssima da Copa do Mundo na Alemanha, o Brasil praticamente para, esquece suas mazelas e mergulha numa corrente em torno da Seleção Brasileira. Nesse período, a violência que se alastra de forma incontrolável nas principais cidades, a escassez de emprego que castiga a maioria da população e o avanço das desigualdades sociais passam a ser assuntos de interesse secundário para a maioria dos brasileiros, que só quer mesmo é saber do desempenho em campo de Ronaldo, Kaká, Cafu e companhia.
A torcida pela vitória do time canarinho aproxima cidadãos de todas as classes sociais, desde o mais humilde trabalhador até os principais expoentes do empresariado, num espetáculo raro e único de convergência de interesses. Embora esse fenômeno possa ser criticado, pelo seu caráter claramente alienante, é inquestionável que trata-se de manifestação autêntica e irrefutável, enraizada na cultura nacional. Como bem definiu uma vez o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, na Copa o país vira “a pátria de chuteiras”.
Lamentavelmente, contudo, os principais beneficiários deste estado de torpor que envolve a população em torno do futebol são os governantes e a classe política. Enquanto respira futebol, o cidadão esquece de fiscalizar e cobrar ações eficazes de seus governantes e representantes políticos, no âmbito dos municípios, estado e país. É inegável que torcer apaixonadamente pela seleção nacional é um direito legítimo do brasileiro, mas o melhor seria, para o bem da cidadania, que cada jogo não tivesse mais do que 90 minutos.